Um sinal de esperança no combate à pandemia de coronavírus: Porto Alegre tem menos pacientes graves, internados nas unidades de pronto atendimento a espera de um leito em unidade de tratamento intensivo (UTI). De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), abril apresenta melhora nos indicadores gerais desse tipo de atendimento, em relação ao mês passado.
A pedido de GZH, o coordenador de Urgências da SMS, Diego Fraga, analisou os dados dos últimos sete dias, de 8 e 14 deste mês, comparados ao mesmo período de março. Atualmente, por dia, 19 pessoas em média aguardam transferência para uma unidade hospitalar de tratamento intensivo. O mesmo intervalo de uma semana, em março, apontou 30 encaminhamentos diários às UTIs.
— A grande questão é a menor gravidade dos pacientes. O trabalho dos prontos-atendimentos é esse, dar o primeiro suporte e ver a necessidade de levar a hospitais. Seguimos com grau de alerta, mas com menos pessoas graves, o que é uma boa notícia — afirma Fraga.
Os números são ainda mais expressivos se comparados com o auge do colapso no sistema. Nesta quinta-feira (14), 12 pessoas esperavam transferência. Na situação mais crítica do mês passado, esse número foi quase seis vezes pior, com 70 pessoas nas instituições de saúde necessitando leitos de extrema complexidade.
Maior de todas as unidades, a UPA Moacyr Scliar, no bairro São Sebastião, zona norte da Capital, tinha pouco público por volta das 10h desta quinta. Sete pessoas estavam na rua e apenas uma na sala de espera para atendimentos não-covid. Na área exclusiva a sintomas respiratórios, cinco pacientes ocupavam as cadeiras da tenda montada no pátio do posto.
Chefe de pista em um posto de combustíveis, Beltessazar Lisandro Lesnik, 41 anos, levou o filho para tratar uma crise renal aguda. Diz ter sido atendido na hora:
— Cheguei 8h30min e ele foi para a triagem logo. Já estive em outras ocasiões aqui, ano passado, e a vezes ficava 12 horas.
Gerente da UPA, Jaqueline Rocha comemora a menor dificuldade em conseguir um leito nos hospitais de referência.
— Nem se compara. Hoje não está represando a transferência mais. A liberação da regulação é ágil, o paciente sai daqui até no mesmo dia. Em março, tinham casos em que ficava dias esperando — compara.
No mês passado, relembra a coordenadora, houve restrição aos casos aceitos na unidade da Zona Norte: apenas os pacientes graves podiam ser internados. No momento mais grave, a instituição registrou cerca de 40 crises respiratórias por dia. Na última quinzena, as restrições foram suspensas, e o índice de suspeitas de covid caiu 50%.
— Acredito que o vírus chegou mais perto das pessoas, que viram o número de mortes ou até perderam alguém próximo, e se conscientizaram mais — avalia.
Em 3 de março, o Pronto-Atendimento (PA) Cruzeiro do Sul, bairro Santa Tereza, na Zona Sul, atingiu 530% de ocupação. Seis semanas depois, baixou para 280%. Nesta quinta, havia muitas poltronas vazias e familiares na calçada.
—Meu filho entrou bem rapidinho, poucos minutinhos ela já estava na triagem — conta o autônomo Marcelino Batista Soares dos Santos, 67 anos, que levou a filha para atendimento na emergência da PA Cruzeiro do Sul.
No somatório dos prontos-atendimentos da Bom Jesus, Lomba do Pinheiro, Cruzeiro do Sul e Upa Moacyr Scliar, a média assustou os gestores:
— Em março, a gente tinha 400%. Agora, a soma das emergências passa um pouco mais de 100% — afirma o coordenador de Urgências.
Fraga se mostra incerto sobre o impacto do avanço da vacina na desocupação dos leitos. Reforça a importância de campanhas educativas e da colaboração de quem não pode se manter em distanciamento.
Diferentemente dos demais percentuais, as internações de enfermaria tiveram elevação — pouco mais de 10% nos sete dias de abril e março comparados pela prefeitura. O coordenador remete o aumento a outras comorbidades, de casos em que as pessoas deixaram de procurar hospitalização por medo de um possível contágio pela covid-19.
— A média de internações tem a tendência a se manter porque outras comorbidades continuam acontecendo. Mas parece ter uma mudança de comportamento para o coronavírus — avalia Fraga.