Porto Alegre registrou menor presença do coronavírus no esgoto, pela segunda semana consecutiva. É o que aponta o monitoramento semanal do SARS-Cov-2 nas águas de arroios e do esgotamento sanitário, que pesquisa esse dado desde maio do ano passado em toda a Região Metropolitana.
A redução do vírus foi identificada nos dois principais pontos de coleta de Porto Alegre: as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Serraria (que atende a 50% da população da Capital) e São João/Navegantes (que atende a população da Zona Nordeste, mais comercial do que residencial). O estudo é desenvolvido pela Feevale, em parceria com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs) e instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e a Fiocruz.
O último levantamento, entre 21 e 27 de março, registrou 722 mil cópias genômicas do coronavírus por litro de esgoto na Estação Serraria. Antes disso, até 20 de março, o número era de 2 milhões de cópias por litro. Ou seja, a última medição mostrou 1/3 da quantidade de vírus, se comparada com a anterior. Na ETE São João/Navegantes, a medição deu 298 mil cópias genômicas por litro, quando a anterior tinha sido 819 mil e, na segunda semana de março, superado 2 milhões/litro.
— Após período crítico e com registro continuado de elevadas cargas virais, os resultados de agora dão margem a otimismo — admite a virologista Aline Campos, chefe de Vigilância Ambiental em Saúde do CEVS.
Fosse um dado isolado, Aline não veria motivo para comemoração. Mas ela ressalta que a estatística vem acompanhada de outros indicadores, como a diminuição da procura por leitos clínicos para pacientes com covid-19 e, também, pelo fato de Porto Alegre estar com bandeira preta há várias semanas. A especialista acredita que os porto-alegrenses começam a colher resultados de um período sem grandes aglomerações, pós-festas de fim de ano e Carnaval.
— Em outras ocasiões aconteceu de o número de cópias genômicas do vírus aumentar numa estação e diminuir em outra. Agora caíram nas duas principais ETEs. E ainda não saiu o da ETE Sarandi, no norte da cidade. Esperamos que também tenha diminuído — pondera Aline.
As duas semanas entre 7 e 20 de março, em torno de 2 milhões de cópias de vírus por litro de esgoto em Porto Alegre, foram o auge da contaminação medida pela pesquisa. Os picos anteriores tinham sido em dezembro (730 mil cópias por litro na Serraria) e outubro (1 milhão, também na Serraria).
Aline saúda a desaceleração da pandemia, mas alerta: basta as aglomerações aumentarem para surgir novo ciclo infeccioso e, com ele, aumentar a circulação de vírus nas águas porto-alegrenses.