Dois anos depois de realizar o sonho de construir uma família ao lado da esposa, a cuidadora de idosos Fabiana Ferreira Maria, 42 anos, se viu sozinha na criação dos cinco filhos, que foram adotados pelo casal em 2019. A companheira dela, Alessandra dos Santos Maria, 37 anos, morreu em 1º de abril, devido à covid-19, em um hospital de Tramandaí, onde estava internada desde março.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta terça-feira (6), Fabiana contou que ela e Alessandra começaram a namorar em 2013 e se casaram em 2015. Segundo a cuidadora de idosos, Ale – como era carinhosamente chamada – sempre teve uma vontade muito grande de ter filhos e construir uma família:
— Eu nunca tinha pensado em ser mãe, nunca tinha nem cogitado a hipótese de casar, ter filhos, nada dessas coisas, e a Ale plantou essa sementinha em mim.
Em 2016, as duas deram início ao processo de adoção e, ao fazer o cadastro, optaram por ter irmãos. Três anos depois, em janeiro de 2019, Fabiana recebeu uma ligação do serviço social do Fórum de Parobé, cidade onde as crianças moravam, perguntando se elas gostariam de conhecer cinco irmãos. Imediatamente, a cuidadora respondeu que sim.
— Não pensei em nada, só disse “sim, eu quero”. Liguei para a Alessandra e disse “vida, nossos filhos chegaram”, ela perguntou quantos e eu respondi que eram cinco. Ela falou “vamos lá, são nossos, vamos nessa” — relembrou.
As crianças estiveram presentes na primeira audiência, para a surpresa do casal, que não conseguiu controlar a emoção. Até março de 2019, as duas iam a Parobé para visitar os futuros filhos e poder conhecê-los melhor:
— Achei muito interessante que a juíza perguntou para as crianças se eles queriam ser nossos filhos e eles escolheram a gente. Então, foi muito legal, a gente sabe que a família foi construída porque todos quiseram estar juntos.
Em 6 de abril de 2019, as crianças foram morar com Fabiana e Alessandra, que decidiram se mudar de Alvorada para Cidreira, em busca de uma qualidade de vida melhor para todos.
De acordo com a cuidadora, com a pandemia, a situação financeira da família ficou um pouco mais difícil, mas ambas seguiram trabalhando e lutando. Ale era motorista de aplicativos e se empenhou ainda mais no serviço.
Em março deste ano, ela foi atender clientes em Porto Alegre e retornou com dor de cabeça e dor de garganta, além de uma febre que não baixava. Em 15 de março, Ale procurou atendimento médico e, dois dias depois, preciso ficar internada, porque não conseguia mais respirar sem a ajuda de oxigênio.
— No dia 21 de março, ela foi transferida para o hospital de Tramandaí, onde foi recebida por anjos. A doutora Larissa, que foi quem cuidou dela, foi um anjo na nossa vida. Ela fazia chamadas de vídeo para a gente poder ver a Ale todas as tardes, então, ela conseguia nos ver e ouvir o quanto a amávamos — relatou Fabiana, emocionada.
A motorista de aplicativos foi entubada em 25 de março, mas não resistiu e teve morte cerebral em 1º de abril. No dia anterior, no entanto, pôde ver a família por chamada de vídeo e, apesar de estar um pouco sedada, conseguiu acenar com a mão para eles. Segundo Fabiana, os cinco filhos conseguiram dizer que ela era uma mãe maravilhosa e como a amavam.
— Agora, estamos vivendo um dia de cada vez, eu e as crianças. Durante o dia eles se distraem, olham TV, brincam, fazem alguma atividade da escola, o pior é à noite, porque mesmo quando a Ale estava viajando, ela ligava todas as noites, sempre falava com eles, dava boa noite. Então, o pior período para nós tem sido à noite, a minha cama virou um ninho, são cinco filhotinhos amontoados todas as noites — contou ela.