Para controlar a disseminação do coronavírus, a prefeitura de Florianópolis (SC) emitiu, na última quinta-feira (1), novas orientações para o uso de máscaras em locais fechados. Na atualização, a administração pública passou a recomendar o uso de um dos modelos N95/PFF2 ou a utilização de dois equipamentos de proteção individual (EPI) sobrepostos. A sugestão é embasada em protocolos internacionais de prevenção ao coronavírus e suas variantes que circulam pelo país, argumenta a administração municipal da capital catarinense.
Em fevereiro, um estudo feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, da sigla em inglês), dos Estados Unidos, mostrou que o uso das máscaras cirúrgicas cobertas por outra de tecido foi mais eficaz no controle da disseminação de partículas do que os EPIs usados isoladamente.
Em experimentos feitos em laboratório, os pesquisadores observaram que a máscara cirúrgica desatada (entenda no gráfico) bloqueou 56,1% das partículas de uma tosse simulada, enquanto o EPI de pano bloqueou 51,4%. A sobreposição das duas bloqueou 85,4% das gotículas. O modelo cirúrgico atado e com as pregas dobradas bloqueou 77% das partículas.
Um outro teste mostrou que, quando uma pessoa infectada sem máscara tinha contato com outra pessoa não infectada com o EPI duplo e ajustado, a exposição era reduzida em 83%. Já quando o indivíduo não infectado usava apenas máscara cirúrgica com nó ou com pregas dobradas, a exposição era reduzida em 64,5%.
A explicação é o melhor ajuste ao rosto que a sobreposição de EPIs provoca, explicou Rochelle Walensky, diretora do CDC, em uma coletiva de imprensa em fevereiro:
— Isso significa que essas máscaras funcionam e que funcionam melhor quando são ajustadas e usadas corretamente.
Roberto Pecoits-Filho, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e pesquisador de uma iniciativa que estuda as propriedades de filtração de diferentes materiais das máscaras, explica que as recomendações são atualizadas conforme são observadas mudanças na transmissibilidade do coronavírus. Com o surgimento das variantes, especialmente no Brasil, passou-se a indicar o uso de máscara dupla, que tem capacidade maior de filtração.
— Tem experimentos sobre a capacidade de filtração de barreira que mostram que a adição de uma segunda máscara confere uma filtração muito semelhante às N95 sem, necessariamente, agregar maior custo. É uma medida barata e caseira que pode ser usada para dar proteção parecida com a que tem quem trabalha em hospitais — argumenta.
O médico destaca que, além de conferir uma proteção superior e ter custo menor, essa sobreposição de máscaras é mais confortável na comparação com os modelos N95/ PFF2.
— Até para que as pessoas tenham aderência às orientações, elas precisam usar um EPI minimamente confortável — justifica.
Para oferecer alto poder de filtragem, lembra o especialista, é fundamental combinar uma máscara descartável com uma de tecido que tenha pelo menos três camadas. O truque para o ajuste perfeito do EPI cirúrgico é dar um nó em cada elástico rente à máscara.
Além de Florianópolis, a prefeitura de Salto do Jacuí, no noroeste gaúcho, também fez a recomendação de uso de máscara dupla.
Quando usar
Em ambientes onde é possível manter o distanciamento social, diz Pecoits-Filho, não há necessidade de máscara dupla. No entanto, em locais onde é difícil manter a distância, o uso da sobreposição é fundamental, afirma o médico.
— Em lugares com mais gente, como o transporte público, dentro de um táxi, por exemplo. Nessas situações em que terá um distanciamento físico menor, a máscara dupla faz diferença.
Ainda que com maior proteção, a utilização de dois EPIs não substitui o respeito ao distanciamento social e nem as medidas de higiene. Vale lembrar que o uso de máscara dupla deve respeitar a ordem de um EPI descartável junto ao rosto coberto por um de tecido com três camadas.