Nesta terça-feira (13), as agências de saúde dos Estados Unidos solicitaram uma pausa no uso da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, após o relato de efeitos adversos relacionados a coágulos sanguíneos em seis pessoas que receberam o imunizante. As possíveis ligações entre o desenvolvimento do quadro e o produto serão apuradas pelos órgãos de controle norte-americanos Administração de Drogas e Alimentos (FDA) e Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDCs), a fim de determinar se a vacina seguirá sendo aplicada ao público em geral ou se haverá restrições.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o coordenador interino do Serviço de Infectologia do Hospital Conceição, André Machado, afirmou que a suspensão do uso do imunizante até que os casos sejam detalhados é estabelecida por uma questão de segurança e de protocolo. O médico também salientou que são apenas seis relatos em quase 7 milhões de doses aplicadas, o que considerou “um número muito insignificante frente ao total de aplicações”.
De acordo com ele, ainda não se sabe ao certo se os eventos embólicos relatados têm relação única e exclusiva com o uso do imunizante e, por isso, os casos serão investigados pela FDA e pelos CDCs. Machado também lembrou da situação semelhante ocorrida com a vacina de Oxford/AstraZeneca, cuja continuidade da utilização seguiu sendo recomendada, e afirmou que ambas farmacêuticas utilizam a mesma tecnologia em seus produtos.
Um evento embólico é uma manifestação clínica provocada pelo entupimento de veias e, dependendo da região onde ocorre, pode provocar manifestações clínicas relacionadas, explicou o médico:
— Na vacina de Oxford/AstraZeneca, de 25 milhões de doses aplicadas, foram 62 casos de eventos embólicos, com formação de êmbolos tanto no sistema nervoso central quanto nos vasos do baço, bem como alteração relacionada a manifestações cutâneas.
No caso do imunizante da Janssen, no entanto, ainda não se tem informações sobre quais eventos foram registrados.
— Dentro de um contexto de vacina e eventos embólicos, o que a população precisa saber é que pode ser desde um inchaço na perna por uma trombose em uma veia até uma cefaleia forte por ter um trombo em uma veia específica no cérebro — esclareceu.
Machado também enfatizou que outras situações, que são bem mais frequentes do que a aplicação da vacina, favorecem a ocorrência de casos do tipo. Como exemplo, ele citou o uso de anticoncepcional oral e de cigarro. Além disso, afirmou que o benefício do imunizante é superior ao risco de efeitos adversos e, por esse motivo, a vacina de Oxford não foi retirada do mercado ou teve sua aplicação proibida.
Entretanto, mesmo com baixo risco, é necessário interromper temporariamente a aplicação e verificar, com calma e cautela, se os eventos reportados têm ligação direta com a vacina ou não. Segundo o médico, essa suspensão é recomendada porque as vacinas contra a covid-19 são novas, com algumas tecnologias elaboradas recentemente.
— Os estudos preliminares, independentemente de qual vacina é aplicada, foram baseados em um número pequeno de voluntários, que serviram principalmente para avaliar a segurança e a eficácia. Agora, quando se começa a aplicar em grande proporção de pessoas, as coisas começam a acontecer e, por se tratar de medicamentos, vacinas e tecnologias novas, em qualquer evento que possa acontecer é importante que se faça uma reflexão e veja se tem nexo (com o produto) — concluiu.