Na urgência de imunizar a população contra a covid-19, o Brasil, que enfrenta o pior momento da pandemia de coronavírus, se destacou com uma notícia positiva nesta sexta-feira (26).
Se tudo correr conforme o cronograma divulgado pelo Instituto Butantan, de São Paulo, será possível produzir 40 milhões de doses da ButanVac, primeiro imunizante contra a covid-19 totalmente nacional, a partir de maio.
Cientistas e médicos celebram a conquista, ainda que recomendem cautela enquanto não se sabe de mais detalhes das etapas do estudo conduzidas até aqui, e também para evitar frustrações quanto à viabilidade dos prazos estabelecidos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisa autorizar a realização dos testes em grande escala em voluntários, previstos para abril.
Médica pediatra, Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), recebeu a novidade com otimismo.
— O impacto é maravilhoso. Isso significa independência, o que é fundamental, hoje, em um mercado sem vacinas suficientes. É muito importante que o Brasil não só produza vacina como consiga estar na ponta também na elaboração. Isso é fundamental para crescer. Toda conquista da ciência leva a outra conquista da ciência — afirma Isabella.
Até o momento, apenas dois imunizantes estão em uso no país: a CoronaVac, parceria do Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac, e a vacina de Oxford, viabilizada pela universidade britânica e o laboratório anglo-sueco AstraZeneca.
Para a imunologista Cristina Bonorino, é fundamental que não apenas uma, mas várias vacinas nacionais sejam produzidas simultaneamente. Dadas as diferentes taxas de eficácia, os imunizantes se fortalecem no conjunto, e o Brasil tem profissionais capazes de despontar nesta área, aponta. O que falta, segundo a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), é investimento.
— Para cientista, não existe problema insolúvel. Existem tempo e dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais rápido. Temos um recorde histórico mundial de investimento em vacinas atualmente — destaca Cristina, que faz um chamado também à iniciativa privada. — É preciso apoiar diferentes metodologias. Isso vai criar divisas para o Brasil e colocar o país em uma situação de líder em tecnologia. Temos que criar uma tecnologia nossa. Ficamos pagando para importar — constata.
Apostar em jovens pesquisadores é outra sugestão de Cristina:
— Tem risco? Tem risco, mas a gente não chega a lugar algum se não arriscar. Tem que investir em algumas coisas em que ninguém acredita. Alguma vai dar certo.