Ainda distante da meta de 70% da população vacinada para o controle da pandemia de coronavírus, o Rio Grande do Sul deverá ter doses garantidas para todos os 4,47 milhões de gaúchos que constituem os grupos prioritários em maio, segundo cronograma de repasse firmado entre Ministério da Saúde e farmacêuticas.
A projeção de GZH é baseada no calendário de entrega de vacinas divulgado pelo Ministério da Saúde com base nos acordos já fechados com farmacêuticas e leva em conta o usual repasse ao Rio Grande do Sul de 6% das doses enviadas aos Estados, segundo informou o governador Eduardo Leite (PSDB).
A cobertura em duas doses dos grupos prioritários no Rio Grande do Sul em maio se daria com as cerca de 9,4 milhões de vacinas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Butantan, do convênio Covax Facility e da importação a partir da Rússia da Sputnik V, de acordo com informações repassadas pelo Ministério da Saúde a GZH.
Da mesma forma, a projeção é de que o Brasil tenha à disposição até maio 156,1 milhões de doses, o suficiente para a aplicação em duas doses das 77,2 milhões de pessoas dos grupos prioritários a nível nacional.
No fim de 2021, estão previstas mais de 530 milhões de doses para o país, mais do que o necessário para todos os brasileiros. As injeções excedentes ficarão guardadas para serem aplicadas em 2022 – analistas estimam que o coronavírus, com o tempo, se tornará uma doença endêmica, que exigirá a imunização anual, tal qual a vacina da gripe.
Fazem parte dos grupos prioritários trabalhadores da saúde, idosos a partir dos 60 anos, pessoas com comorbidades, trabalhadores da educação, forças de segurança, dentre outros (veja quem são ao fim do texto).
As doenças que contam como "comorbidade" são diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave, segundo o Plano de Vacinação contra a Covid-19 do Rio Grande do Sul.
Até esta terça-feira (16), painel do governo do Estado indicava que 843 mil gaúchos haviam sido vacinados. Destes, menos de 220 mil receberam a segunda dose (cerca de 2% de toda a população do Rio Grande do Sul). Em Porto Alegre, a vacinação incluía, até esta terça-feira, idosos com 76 anos ou mais.
O baixo ritmo da aplicação é fruto das falhas do governo Jair Bolsonaro em negociar a compra de imunizantes com antecedência, o que colocou o Brasil atrás na fila de países que receberão repasses das farmacêuticas. Eduardo Leite abriu, ao lado de outros governadores, negociações com laboratórios, mas a resposta das empresas é de que a preferência será dada a países, não Estados.
O Palácio Piratini trabalha com a premissa de que a imunidade de rebanho será alcançada após a vacinação de 70% ou mais dos gaúchos – o limite mínimo pode subir a depender do uso de vacinas com maior ou menor eficácia. Até que a meta seja alcançada, a vacinação deverá frear a hospitalização de indivíduos mais idosos.
A partir de junho, o Ministério da Saúde receberá também doses da Pfizer e da Janssen, cujos contratos acabam de ser fechados, anunciou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na segunda-feira (15). Na entrevista, ele afirmou que brasileiros da população no geral começariam a ser vacinados a partir de maio.
RS deverá ter vacinas para todos os gaúchos até setembro
Com as novas compras, todos os 11,47 milhões de gaúchos devem estar vacinados em duas doses até setembro deste ano – a vacina da Janssen é a única que exige somente uma aplicação.
Ao fim de 2021, o Rio Grande do Sul terá recebido quase 32 milhões de vacinas, mais do que o suficiente para toda a população. Se levada em conta a negociação com a Moderna, ainda em aberto, o Estado ganharia 32,75 milhões de doses ao fim do ano.
O Ministério da Saúde destacou a GZH que as previsões de entrega são atualizadas semanalmente pelos fornecedores das vacinas e que já distribuiu mais de 20,1 milhões de doses para os Estados, sendo 16,1 milhões da Coronovac e 4 milhões de Oxford, importadas da Índia. “Desse total, Estados e municípios conseguiram aplicar 10,7 milhões de doses”.
Questionada pela reportagem sobre a previsão de vacinar todos os gaúchos dos grupos prioritários, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) afirmou, por nota, que trabalha apenas com as doses de fato recebidas e que não conta com vacinas que não chegaram, o que impede realizar projeções.
De fato, as estimativas do Ministério da Saúde já foram revistas antes – em oito dias, Pazuello reduziu cinco vezes a perspectiva de vacinas recebidas em março. Outros cronogramas foram alterados após atrasos na importação de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) ou em problemas estruturais para laboratórios produzirem doses de forma massiva.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), Juarez Cunha, faz algumas ressalvas sobre a celeridade de entrega dessas doses. A Covaxin sequer tem publicados os resultados de fase três, o que dificulta a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o repasse ainda em março. Outro ponto é que as doses do convênio Covax Facility dependem do envio por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, o médico ressalta que a vacina contra o coronavírus não será a única demanda das prefeituras: entre abril e maio, os sistemas de saúde são fortemente mobilizados para a campanha de vacinação contra a gripe.
— Não dá para esquecer que temos a campanha para vacinação da gripe entre abril e maio para vacinar 80 milhões de pessoas. Serão duas campanhas acontecendo ao mesmo tempo, isso vai dar trabalho e é preciso pensar nessa logística que demandará da nossa rede de saúde. Temos a capacidade de vacinar de 1 milhão a 2 milhões de pessoas por dia no Brasil. Mas serão fundamentais parcerias com universidades e drive-thrus para alavancar essa vacinação — pondera Cunha.