O Rio Grande do Sul atinge mais um recorde negativo na pandemia, nesta terça-feira (16), com a confirmação de que março de 2021 já é o mês com o maior número de mortes por covid-19 no Estado. Em apenas duas semanas, foram registrados mais óbitos do que em qualquer um dos meses anteriores.
Entre os dias 1º e 15 de março, foram 2.360 mortes por covid-19, de acordo com dados atualizados nesta terça pela Secretaria Estadual da Saúde (SES). Esse número ainda deve piorar nos próximos dias, já que parte dos óbitos entra no sistema com atraso.
Até então, dezembro era o mês com maior número de vítimas — foram 2.088 óbitos no período. Assim, os primeiros 15 dias de março superam em 272 mortes o pico anterior.
O aumento no número de vítimas vem na esteira de uma piora nos indicadores de contaminação e de internações hospitalares registrada no mês passado. O total de internados em leitos clínicos mais do que quadruplicou entre fevereiro e março, enquanto o número de internados mais do que dobrou no período.
O infectologista Alexandre Zavascki diz que ainda não é possível fazer previsão de quando haverá redução na curva de mortes, uma vez que este é o último indicador a arrefecer.
— O que estamos vendo de mortes é o resultado de um sistema hospitalar colapsado. E isso vai continuar aumentando. Temos ainda uma carga muito grande de doentes nos hospitais e outros chegando. A mortalidade sempre cai por último. Primeiro vai cair o número de casos, depois os números de hospitalizações e, enfim, de mortos – destaca Zavascki.
O que estamos vendo de mortes é o resultado de um sistema hospitalar colapsado. E isso vai continuar aumentando.
ALEXANDRE ZAVASCKI
Infectologista
O infectologista também avalia que, se governo do Estado e prefeituras seguirem utilizando o mesmo sistema, o Rio Grande do Sul seguirá registrando números elevados de óbitos.
— Do ponto de vista biológico, o que seria preciso, nesta situação, é uma restrição muito mais severa, por um de quatro a seis semanas, para realmente “esmagar” essa curva de mortes — projeta Zavascki.
O RS está em bandeira preta, no modelo de distanciamento controlado, há mais de duas semanas. Também neste período o mecanismo de flexibilização municipal chamado de cogestão foi suspenso. Mesmo na bandeira preta, seguem permitidas no Rio Grande do Sul parte das atividades não essenciais, como a construção civil e as fábricas de itens diversos. Restaurantes e lanchonetes também podem reunir funcionários para serviços de telentrega.
De acordo com Zavascki, após um bloqueio geral de atividades, que permitisse a queda brusca da curva de mortes, seria preciso alterar o modelo atual de gestão da pandemia, colocando o indicador de transmissão do vírus como principal variável de medida. Achatadas as curvas, Zavascki sugere que o Estado inicie um programa de testagem em massa e intenso rastreamento de casos.
O infectologista ainda diz que os governos têm responsabilidade pela falta de programas de educação e conscientização da população, acompanhados de forte fiscalização.
— Como acompanhei as duas ondas anteriores da pandemia, imagino que agora vai se repetir o mesmo: em algum momento vai haver uma estabilização de casos, os governo farão flexibilizações e vamos estabilizar, só que desta vez em um patamar muito alto. Nosso modo de lidar com a pandemia tem sido este. Adaptação a níveis altos de contaminação e morte. É uma maneira ruim. Não vamos vencer o vírus desta forma. Ficamos, a cada passo da pandemia, forçando uma normalidade que é incompatível. Somos incapazes de inovar — critica.