A pressão da pandemia sobre a rede hospitalar no Rio Grande do Sul não se concentra apenas nos grandes centros do Estado: em diversas regiões, a lotação das unidades de terapia intensiva (UTIs) se aproxima ou chega a superar os 100%, enquanto o número de doentes internados com covid-19 bate recordes.
Para mostrar a gravidade da situação, o Gaúcha Atualidade convidou médicos de diversas partes do Estado – contemplando os municípios de Capão da Canoa, Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas, Santa Rosa e Torres – para relatar o cenário de esgotamento dos profissionais e superlotação do sistema de saúde.
O médico João Francisco Neves da Silva, da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, apela para que a população se preserve, evitando aglomerações e mantendo cuidados de higiene para que a demanda por atendimento médico não cresça ainda mais:
— Estamos, no nosso hospital, como na maioria dos demais, com os procedimentos e cirurgias eletivos suspensos para garantir um atendimento melhor aos pacientes com covid. A nossa UTI, atualmente, está em torno de 85% ocupada, a UTI covid. As outras UTIs também estão quase todas ocupadas, causando preocupação. Indiscutivelmente, o que precisamos é, com todo o carinho da população, fazer todos os procedimentos necessários para podermos ficar mais protegidos.
Norton Gulart, médico do Hospital Vida e Saúde, em Santa Rosa, alerta que os estabelecimentos hospitalares do município estão lotados, com os quartos disponíveis completamente esgotados.
— O meu chamamento é para que todos façam a sua parte. Só os "linhas de frente", como a gente chama, médicos, enfermeiros, atendentes, não vão vencer essa batalha sem a ajuda de todos. Isso não é uma brincadeira. É uma questão de vida ou morte como eu nunca vi na minha vida. Façam o certo, optem pela vida.
Juarez Dal Vesco, diretor técnico do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, relata que o município está vivendo o pior momento da pandemia, e pede à população que contribua para que se consiga reverter esse cenário:
— Estamos operando no limite da nossa capacidade em relação aos recursos humanos, aos quais quero enaltecer e agradecer. Solicitamos que a população nos ajude, mantendo o distanciamento, higienização das mãos e uso permanente das máscaras em locais públicos.
Maximiliano Marques, diretor executivo de Saúde Pública da AESC, mantenedora dos hospitais Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, e Santa Luzia, em Capão da Canoa, descreve uma situação crítica, com o uso de todos os leitos disponíveis:
— Não há vagas na UTI. Nossas emergências estão com pessoas em estado gravíssimo. Mesmo com as ações de reforço de estrutura junto ao governo do Estado, as prefeituras e a AESC, a demanda cresce muito acima da nossa capacidade de absorção. É importante que a sociedade entenda a gravidade do momento e possa se solidarizar, adotando medidas de proteção.
Vinicius Lain, diretor técnico do complexo hospitalar da Unimed de Caxias do Sul, diz que a situação na região também é muito grave:
— Neste momento, o hospital da Unimed se encontra em 98% da sua ocupação de UTI, e 105% da ocupação de leitos clínicos. Já não se tem mais leito para oferecer. A situação é muito grave, muito crítica. Estamos todos muito preocupados, porque dia a dia tem aumentado a procura, e nós não temos sinais, ainda, de estabilização da doença.