A prefeita de Taquara, Sirlei Silveira (PSB), orientou o uso de ivermectina como medida para prevenir a covid-19 ou mitigar os sintomas mais graves da doença no município do Vale do Paranhana. O pronunciamento foi realizado na presença da secretária municipal de Saúde, Ana Maria Rodrigues, do vice-prefeito, Nelson Martins, e de três médicos da cidade, Richard Santos Pereira, Mauro Werb Junior e Marcelo Conrad, por meio de uma live transmitida no perfil da mandatária no Facebook, na tarde de quarta-feira (10).
A ivermectina é um medicamento produzido para uso veterinário e humano, usado contra parasitas, como sarna, oncocercose e piolhos, e não tem eficácia comprovada contra a covid-19.
Durante o vídeo, com duração de aproximadamente 10 minutos, é orientado o uso da ivermectina para que o medicamento atue no organismo de maneira preventiva como forma de fortalecer o corpo. Em entrevista à reportagem, Sirlei relata que alguns médicos criaram, de maneira independente, o Conselho Médico Pró-vida Taquara. Esse grupo, segundo ela, é formado por cardiologistas e infectologistas, entre outros. Teriam a procurado para que fosse emitido o apelo à comunidade para o uso desse medicamento, assim como reposição de vitamina D, vitamina C e zinco.
A farmacêutica Merck, que no Brasil opera com o nome MSD e é responsável pelo desenvolvimento da ivermectina, afirmou em comunicado, em 4 de fevereiro deste ano, que o fármaco não possui "nenhuma evidência significativa" para proteger ou curar pessoas com coronavírus. Além disso, a companhia ressaltou que não há "nenhuma base científica para um efeito terapêutico potencial contra covid-19 de estudos pré-clínicos". Também não existe "nenhuma evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes" com a doença.
A agência regulatória dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), enumerou uma lista de medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a covid-19, e a ivermectina está entre eles. O órgão apontou ainda que tomar grandes doses desse fármaco é perigoso e pode causar sérios efeitos, como náuseas, vômitos, diarreia, queda de pressão, reações alérgicas, tonturas, ataxia (problemas de equilíbrio), convulsões, coma e até morte. Além disso, há a chance de a ivermectina afetar a eficácia de outros remédios, como os anticoagulantes.
Quando confrontada com o posicionamento da comunidade científica internacional sobre a ineficácia da ivermectina no combate ao coronavírus, a prefeita de Taquara disse que não é da área médica para contrariar:
— Os médicos de Taquara sugerem o medicamento, quem sou eu para contrariar? Eu não vou deixar as pessoas morrerem, vou tomar uma atitude e ouvir quem está tratando pacientes e conseguindo bons resultados.
Na live, o médico que mais falou foi Pereira. Ele disse que há estudos que indicam a eficácia da ivermectina contra covid-19, mas não detalhou que estudos são esses.
A ivermectina integra a lista de medicamentos distribuídos nos postos de saúde do município. Além disso, a prefeitura de Taquara solicitou 20 mil comprimidos de cloroquina ao governo federal — outro remédio sem qualquer comprovação de eficácia contra o coronavírus.