Por determinação do Ministério da Saúde, o avião que seria usado para buscar as 2 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca/Oxford, em Mumbai, na Índia, será utilizado para transportar cilindros de oxigênio aos hospitais de Manaus (AM), que vive um colapso no sistema de saúde.
A aeronave da Azul Linhas Aéreas A330neo, que estava no Recife (PE), decolou às 3h58min e pousou às 6h43min no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP). A companhia aérea projeta a decolagem para a capital amazonense por volta das 14h deste sábado (16). A chegada está prevista para as 18h50min.
Em nota oficial, o Ministério da Saúde informou que "a aeronave levará a capacidade máxima para esse tipo de carga. O pedido foi feito pelo Ministério da Saúde a fim de abastecer as unidades de saúde da região."
"O voo será feito pela mesma aeronave que partiria hoje (esta sexta) para Mumbai, na Índia, uma vez que a missão terá seu início reprogramado enquanto as questões diplomáticas entre os dois países são resolvidas e as doses da vacina Astrazeneca/Oxford possam ser trazidas ao Brasil", informou a Azul em um comunicado oficial.
A decisão da Índia frustrou a expectativa do governo federal, que havia preparado um plano para que o imunizante chegasse ao Brasil até domingo (17), a tempo de ser usado no início da vacinação em todo o país, prevista para quarta-feira (20).
Após a resposta dos indianos, o Ministério da Saúde solicitou nesta sexta-feira (15) a entrega "imediata" de seis milhões de doses da Coronavac, produzidas pelo Instituto Butantã, em parceria com a chinesa Sinovac.
O Instituto Butantã, por sua vez, respondeu que vai liberar o imunizante assim que houver autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e questionou o quantitativo de vacinas que será destinado ao Estado de São Paulo, além da data e horário em que será iniciada a campanha de vacinação "simultaneamente" em todo o país.
Em novo ofício ao Butantã, o Ministério da Saúde não respondeu às perguntas e afirmou que é sua a responsabilidade pela elaboração, atualização e coordenação do Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a covid-19.
Mesmo com a recusa da Índia em enviar as doses, não está descartada a possibilidade de a vacinação começar apenas com a Coronavac, o que representaria um revés político ao presidente Jair Bolsonaro.
A negociação pela vacina gerou crise entre os governos federal e de São Paulo. Bolsonaro chegou a forçar o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a recuar da promessa de compra, em outubro. Bolsonaro disse também que não compraria a vacina "pela sua origem".
Por fim, o presidente recuou e acabou adquirindo a vacina, principal aposta do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político, para a vacinação no Estado. Ainda assim, Bolsonaro ironizou a eficácia de 50,4% da vacina, próximo do patamar mínimo exigido pela Anvisa.
Em entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro também confirmou o atraso. Ele disse que o voo da Azul que irá buscar as vacinas deverá partir em "dois ou três dias".
— Está tudo acertado para disponibilizar 2 milhões de doses, mas hoje está começando a vacinação na Índia, um país com 1 bilhão de 300 milhões de habitantes. Se resolveu, não foi decisão nossa, adiar em dois ou três dias. Daqui a dois ou três dias no máximo, o avião vai partir e vai trazer as vacinas para cá — afirmou Bolsonaro.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chegou a telefonar na noite de quinta-feira (14) ao chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, e reiterou o pedido para importação das vacinas. Jaishankar, no entanto, alegou "problemas logísticos" para liberar as doses ao Brasil.
O governo federal comprou 46 milhões de doses da Coronavac neste mês. Há ainda a opção de adquirir mais 54 milhões de unidades. A Anvisa deve decidir no domingo (17) se libera o uso emergencial da Coronavac e da vacina de Oxford. Antes deste aval, estes imunizantes deveriam ficar sob guarda do Butantã e da Fiocruz.