Com o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, no domingo (17), as dúvidas sobre o imunizante e como ele será aplicado no país ganharam força. Para ajudar a esclarecer essas questões, GZH abriu um canal de comunicação em que usuários podem encaminhar perguntas sobre o processo de vacinação no país com os imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) até o momento.
Mistura de doses
Ouvi um infectologista falando que não seria indicado tomar a primeira dose da vacina do Butantan e a segunda da de Oxford, por exemplo. Minha dúvida é, como fico sabendo qual vacina tomei? Se tomar a de um laboratório e essa acabar não devo tomar a segunda dose de outra? Seria melhor nesse caso tomar uma dose somente?
Tanara Hammer, de Porto Alegre
No momento da vacinação, todas as pessoas serão informadas e orientadas sobre como devem proceder para a segunda dose, o que fazer no intervalo e, principalmente, a seguir as medidas de enfrentamento durante e após o processo completo de vacinação. Não temos estudos, até o momento, recomendando combinar diferentes doses de diferentes vacinas. É importante seguir no regime estipulado, pois fazem parte dos protocolos aprovados pela Anvisa.
Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, mestra e doutora em neurociências pela UFRGS, coordenadora da Rede Análise Covid-19, membro do grupo Infovid, União Pró-Vacina e equipe Halo
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Vacinação para quem se infectou
Quem já testou positivo para o coronavírus, mesmo assim é recomendada a vacina? Pois dizem que quem testou positivo já tem anticorpos e não precisa da vacina.
Sérgio Ghisleni, de Balneário Camboriú (SC)
Pessoas que já foram contaminadas pela covid serão vacinadas?
Raquel Winiemko de Porto Alegre
Sim. Especialmente para ter uma imunidade mais robusta, potencialmente mais duradoura e abrangente (em relação às variantes).
Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, mestra e doutora em neurociências pela UFRGS, coordenadora da Rede Análise Covid-19, membro do grupo Infovid, União Pró-Vacina e equipe Halo
Onde ocorre a imunização
As doses serão dadas aos pacientes de covid nos hospitais ou apenas para prevenção?
Clenis Rosa, de Cachoeirinha
Os pacientes que estão em UTIs também receberão a vacina?
Valeria Drese, de Viamão
Nesse primeiro momento, serão fornecidas de acordo com os grupos prioritários no Plano Nacional de Imunizações.
Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, mestra e doutora em neurociências pela UFRGS, coordenadora da Rede Análise Covid-19, membro do grupo Infovid, União Pró-Vacina e equipe Halo
Residente do RS pode vacinar em outro Estado, caso esteja temporariamente fora? Por exemplo, vacinar em Santa Catarina? Se tomou a primeira dose no RS, pode tomar a segunda dose em outro Estado?
Eliane Possamai, Bento Gonçalves
Teoricamente, ninguém deve ser barrado da imunização em um município por ser de outro, mas isso pode gerar falta de vacinas em um lugar em detrimento de outro com sobra. Então, a orientação da Secretaria Estadual da Saúde do RS é para que a vacinação ocorra no município de residência, pois o cálculo das doses é feito sob critérios populacionais de residência.
Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual da Saúde do RS
Como será feita a vacinação em idosos com mais de 80 anos acamados que vivem em residência familiar?
Simone Ruschel, Porto Alegre
A vacinação será volante. Os profissionais de saúde que farão a aplicação das vacinas irão até os lares de idosos e asilos. Quem cuida desta logística são os municípios. No caso de idosos acamados em casa, por exemplo, ocorrerá o mesmo procedimento conforme andamento das fases de vacinação. Idosos fora desses locais não se vacinam agora. Será um pouco mais adiante, conforme chegada de mais doses. Quando chegar a esse público, a vacinação será, em sua maioria, nas salas de vacina das Unidades Básicas de Saúde. Localmente, nos municípios, poderão ser feitas outras estratégias, como a visitação de idosos com dificuldade de locomoção ou acamados, conforme avaliação e estrutura da rede municipal de saúde. Esse esquema já é realizado anualmente pelos municípios em situações como a vacinação da gripe.
Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual da Saúde do RS
Gostaria de saber se é só ir ao posto de saúde, respeitando as faixas etárias do calendário, para receber a vacina.
Ana Sanches, Porto Alegre
Neste primeiro momento, a prioridade são profissionais da saúde da linha de frente, indígenas aldeados e idosos em casas geriátricas. Então, as vacinas estão sendo aplicadas em hospitais, nas instituições de idosos e nas aldeias indígenas. Não devemos procurar postos de saúde, por enquanto. Nesta fase 1, nenhum dos grupos prioritários precisa se dirigir aos postos, todos serão vacinados no seu local de vínculo:
- profissionais de saúde: nos seus locais de trabalho (hospital, unidades de triagem, unidades básicas de saúde)
- idosos residentes de casas geriátricas e trabalhadores desses locais: na própria instituição onde residem/trabalham (equipes de saúde vão até o local)
- indígenas aldeados: nas comunidades indígenas (com a mesma equipe de saúde que, rotineiramente, realiza visitas a esses locais)
Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual da Saúde do RS
Imunidade
Após receber a vacina, por quanto tempo gera imunidade, ou seja, protege contra o vírus?
Rosa Maria De Conto, de Porto Alegre
O corpo leva alguns dias/semana para montar a resposta imunológica específica a partir da vacina. E ainda é preciso considerar o reforço (2ª dose). Então temos aí um período que pode compreender mais de um mês para a completude do regime de doses com a criação da resposta imunológica. Lembrando que nenhuma vacina é 100% eficaz, no geral. Portanto, ainda que você esteja vacinado, é necessário seguir as medidas de enfrentamento à risca até termos uma quantidade suficiente de pessoas na população imunizadas para conferir a imunidade de grupo, que vai proteger, inclusive, as pessoas ainda suscetíveis ao vírus.
Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, mestra e doutora em neurociências pela UFRGS, coordenadora da Rede Análise Covid-19, membro do grupo Infovid, União Pró-Vacina e equipe Halo
Doenças preexistentes
Os estudos científicos comentam algo sobre riscos de doenças preexistentes?
Helma Cavalcanti, de Porto Alegre
Existem contraindicações mencionadas nas bulas das vacinas aprovadas. Um exemplo é a contraindicação para gestantes, lactantes, pessoas menores de 18 anos. Isso porque precisamos de mais estudos para esses grupos para estabelecer o perfil de segurança e eficácia, e eles estão planejados para serem conduzidos. Existem algumas ressalvas para pessoas imunossuprimidas e imunocomprometidas, que devem ser analisadas com o profissional de saúde que acompanha seu histórico clínico, para ver se haveria alguma contraindicação para o caso específico dessas pessoas. Pessoas que têm propensão a desenvolver respostas alérgicas intensas (ex.: reações do tipo anafilactoides), hipersensibilidades a algum componente da vacina, devem avisar previamente os profissionais de saúde na hora da vacinação e buscar aconselhamento com profissional de saúde que acompanha seu histórico clínico.
Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, mestra e doutora em neurociências pela UFRGS, coordenadora da Rede Análise Covid-19, membro do grupo Infovid, União Pró-Vacina e equipe Halo
Alergia ao ovo
Pessoas idosas que não tomam vacina H1N1 por alergia ao ovo podem tomar a CoronaVac ou a vacina de Oxford?
Antonio Fallavena, de Porto Alegre
Sim. As vacinas, tanto a CoronaVac quanto a de Oxford, não têm a tecnologia utilizada para a vacina da gripe. E a alergia ao ovo não é mais contraindicação de vacina da gripe. Como regra geral, para o uso de qualquer vacina, pessoas que tenham alergia grave a qualquer tipo de medicamento, alimento, isso é sempre importante relatarem onde elas forem ser vacinadas, porque muitas vezes alguns componentes podem fazer parte da composição das vacinas.
Médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
Uso de luvas
Os enfermeiros têm que usar luvas para aplicar a vacina?
Paulo F. Oppermann, de Porto Alegre
Não. Não é uma recomendação utilizar luvas para aplicação de vacinas. Não faz parte das boas práticas a utilização de luvas para aplicar vacina, até porque a pessoa teria de tirar a luva, lavar a mão para cada cliente que fosse aplicado.
Médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
Fora dos grupos de risco
Cidadãos fora dos grupos de risco, abaixo de 60 anos, irão receber vacina? Quando?
Ramon Ramos, de Santo Antônio da Patrulha
Isso é uma decisão do Ministério da Saúde e, provavelmente, a partir do momento em que a gente tenha quantitativos de vacinas que possam ampliar aqueles grupos que são dos mais vulneráveis, de maior risco, o ministério vá ampliar essa possibilidade de outros grupos se vacinarem, inclusive de oferecer para toda a população. Quando isso vai acontecer, vai depender dos quantitativos de vacina que nós tivermos. Com certeza não vai ser antes de ter vacina disponível para os grupos de maior risco e vulnerabilidade.
Médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
Segunda dose
Tem que tomar duas doses da vacina, portanto, será guardada a sua dose?
Marilene Gomes de Assis, de Muriaé (MG)
Sim. Tanto que os quantitativos que nós recebemos agora, todos os locais receberam, ele já prevê que a segunda dose será guardada para as pessoas que estão fazendo a primeira dose. Independentemente da vacina utilizada, tanto a CoronaVac quanto a da AstraZeneca são duas doses, o que modifica é o intervalo para fazer as duas doses.
Médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
Das vacinas que estão aprovadas e sendo aplicadas no mundo, qual é o prazo para tomar a segunda dose da vacina, após a primeira? Passado o prazo, caso eu não tome a segunda dose, posso tomar a segunda ou devo reiniciar a vacinação?
Tiarajú Silveira, Pelotas
Os prazos variam de acordo com as vacinas. No caso da vacina do Instituto Butantan, que já começou a ser aplicada no Brasil, a orientação do Ministério da Saúde é a de que o intervalo entre as doses seja de duas a quatro semanas, de acordo com critério estabelecido por cada Estado. Receber a segunda dose no prazo é o ideal, mas caso haja atraso não é necessário reiniciar a vacinação.
Ana Paula Burian, diretora da Regional Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Imunizações
Comorbidades
Sou hipertenso. Em qual grupo me enquadro?
Robson Sisnande, de Estância Velha
Uma coisa importante de falar das pessoas com comorbidades é que muitas vezes elas fazem parte de outros grupos. O idoso já entra como idoso. Mesmo tendo as comorbidades, ele não vai precisar esperar o grupo de comorbidades. O hipertenso vai entrar na previsão da etapa que são os pacientes com comorbidades. Então, com certeza esse grupo se enquadra na estratégia prevista pelo ministério, e o tempo que vai demorar para ele poder se vacinar vai depender dos quantitativos que tivermos de vacina para irmos definindo e aplicando as vacinas nos grupos. O hipertenso é um grupo de risco, vulnerável e que vai ser vacinado, está contemplado na estratégia do Ministério da Saúde.
Médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
A única dúvida que tenho é com relação à vacinação para as pessoas com deficiência - não falo dos acamados em clínicas, mas em pessoas com alto déficit cognitivo, que não respondem por si e que não conseguem usar máscara. Em que fase da vacinação essas pessoas serão vacinadas? No caso, as idades são de 45 e 53 anos.
Maria Elisa Manna Pires, Porto Alegre
Essas pessoas fazem parte dos grupos prioritários, independentemente da idade, mas ainda não há previsão de quando serão vacinadas.
Ana Paula Burian, diretora da Regional Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Imunizações
Tenho uma filha portadora de uma síndrome genética denominada Marden-Walker, que causa hipotonia generalizada e rins policísticos. Em razão dessa faceta da doença, a função renal dela veio à falência e foram precisos três transplantes renais para readquirir o funcionamento adequado dos seus rins. Atualmente, ela encontra-se muito bem de saúde, mas obviamente faz parte do grupo de risco para a covid-19, principalmente em vista da deficiência imunológica que a medicação imunossupressora usada após os transplantes causa ao organismo dela. Minhas dúvidas: segundo o plano nacional de vacinação, em que etapa ela se encaixa? E como devo proceder: ela precisa ser inscrita com antecedência para receber as doses da vacina na época adequada para o seu caso ou bastará levá-la a um local de vacinação nessa época?
Ana Beatriz Coelho Delacoste, Porto Alegre
Sua filha enquadra-se na categoria de imunossuprimidos (terceira fase do plano). Existe a possibilidade de pré-cadastro, mas ela será vacinada caso compareça ao local de vacinação com algum documento que comprove o quadro, como exames, receitas, relatório médico, prescrição, entre outros.
Ana Paula Burian, diretora da Regional Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Imunizações
Como serão avaliados os pacientes com câncer de mama? Serão grupos prioritários aqueles que já fizeram quimioterapia e no momento estão em manutenção? Quantos anos após o descobrimento do câncer os pacientes fazem parte do grupo prioritário?
Patrícia Cavedini, Porto Alegre
As pacientes com câncer de mama deverão ser avaliadas de acordo com a sua população geral. Dizer em que situação da doença se encontra. Temos dados da Oncoclínicas que mostram que o risco de ter covid-19 ou ter a doença mais grave não é maior em pacientes com câncer de mama em tratamento ou depois do diagnóstico. Então, o que deve ser usado são os critérios gerais de outras comorbidades na população. Não há dados específicos sobre pacientes que fizeram quimioterapia ou que estão em manutenção, mas certamente elas devem consultar com seus médicos para ver se, por algum motivo, elas têm algum risco aumentado e precisariam estar em uma população de prioridade.
Pacientes com câncer de mama, eventualmente, não têm uma data específica a partir de quando elas são ou não parte do grupo prioritário. Existem informações preliminares que sugerem que pacientes que fizeram o diagnóstico há menos de um ano poderão ser consideradas de maior risco, mas isso não é algo definitivo. A recomendação é conversar com seu médico para definir o risco específico para sua situação em particular.
Carlos Barrios, oncologista do Grupo Oncoclínicas
Quantidade de doses
O governo do Estado confirmou a distribuição de dois repasses de 51,6 mil doses da vacina CoronaVac para a cidade de Porto Alegre. Tendo a garantia de aplicação de duas doses em 51,6 mil pessoas. Na fase 1, que prevê a vacinação de 163 mil pessoas, estão profissionais da saúde, idosos que moram em asilos, indígenas, quilombolas e idosos com mais de 75 anos. É o que informa GZH. Então, como irão vacinar, em um primeiro momento, 163 mil pessoas, se a reportagem fala em 51,6 mil pessoas?
Francisco Fernandes Neto, Porto Alegre
Pelo número de doses que veio em um primeiro momento para a Capital, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) precisou priorizar os grupos e fazer uma espécie de subdivisão na fase 1. Com isso, agora serão vacinados profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à covid-19, idosos residentes em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) (asilos, lar de idosos, clínicas geriátricas) e acamados, e indígenas. Equipes volantes da SMS estão indo até esses locais para aplicação das doses. Assim que chegaram mais doses, será possível expandir para os demais públicos.
Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
Associação com outras vacinas
As vacinas contra a covid-19 e contra a gripe poderão ser aplicadas na mesma pessoa na mesma semana e/ou no mesmo mês?
José Diogo Ribeiro, Ibirubá
Até o momento, a recomendação é não receber nenhuma vacina 14 dias antes e 14 dias depois da vacina contra a covid-19.
Ana Paula Burian, diretora da Regional Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Imunizações