O anúncio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta segunda-feira (25), de que o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) necessário para a produção da CoronaVac pelo Instituto Butantan foi liberado pela China deu novo ânimo para a corrida pela vacinação contra a covid-19 no Brasil. O carregamento deve chegar ao país até o fim de semana, segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e possibilitará o reforço da vacinação nos Estados.
Até o momento, 6,9 milhões de doses de CoronaVac já foram distribuídas no país. Seis milhões pertencem ao primeiro lote usado nos últimos dias e 900 mil fazem parte de um segundo carregamento de 4,1 milhões, autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cuja distribuição será fracionada.
As 53 mil unidades da CoronaVac que chegaram ao Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (25) vêm dessas 900 mil doses do segundo lote já liberadas. Na manhã desta segunda, começou também no Estado a distribuição de 116 mil doses da vacina de Oxford, que são parte das 2 milhões que o Brasil importou da Índia. O RS já havia recebido um primeiro lote de 341,8 mil unidades da vacina chinesa.
O governo do Estado ainda não decidiu como será o repasse das 53 mil doses da CoronaVac, mas já sabe que seguirá a bula e reservará duas doses para cada pessoa. A decisão ocorre porque o intervalo para a aplicação é menor do que a vacina de Oxford e há receio de atraso no repasse de novas injeções. Na prática, 26 mil pessoas serão vacinadas, cerca de 6% do total de profissionais da saúde que atuam em território gaúcho, explica a chefe da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Tani Ranieri.
Para definir a distribuição das injeções, a SES aguarda levantamento das coordenadorias regionais de saúde para averiguar se algum município recebeu menos doses do que o necessário. Caso isso ocorra, o pequeno repasse de CoronaVac será enviado a cidades que possam ter recebido menos imunizantes do que o necessário para proteger seus profissionais da saúde. A definição, segundo Tani, ocorrerá no fim desta semana.
— Estamos fazendo esse levantamento via coordenadoria regional da saúde. Depois que tivermos o número de doses distribuídas para cada segmento da fase 1 em cada município, veremos se está tudo correto. Distribuímos para as coordenadorias, e elas distribuem para municípios, mas nem todos os grupos (prioritários) possuem um denominador (total consolidado de pessoas) para cada município. A gente tenta dar parâmetros, mas onde busco quais são os profissionais da saúde que trabalham em UTI covid, nos edifícios de cada município? Não temos em nenhum banco de dados. Se houve alguma distorção, a gente pode suprir essa carência agora. Queremos evitar que municípios se comparem e se sintam prejudicados — diz a chefe da Vigilância Epidemiológica.
Impacto na curva
Segundo Tani, o impacto na curva epidemiológica só deve ocorrer quando pelo menos 70% dos grupos prioritários estiverem vacinados. A partir de agora, o prosseguimento da campanha de vacinação depende dos repasses de Butantan e da Fiocruz, da chegada de mais IFA da China e de negociações do próprio Palácio Piratini.
No Rio Grande do Sul, além das 53 mil injeções de CoronaVac que chegaram nesta segunda-feira, a Secretaria Estadual da Saúde aguarda o repasse do carregamento de 3,2 milhões de doses que serão liberadas pelo Butantan após o aguardo da inspeção de qualidade. A liberação deve ser diária, em frações, a partir da sexta-feira (29).
O governo do Estado aguarda, também, as doses da vacina de Oxford que a Fiocruz produzirá quando receber o IFA chinês. Após o recebimento, projeta-se um prazo de três semanas para a entrega das doses após os testes. A Fiocruz mantém o calendário de entregar 210,4 milhões de vacinas em 2021, sendo 50 milhões até abril.
Estado tenta assegurar doses
Além das negociações em nível federal, o Palácio Piratini tenta assegurar doses para o Rio Grande do Sul. O governador Eduardo Leite afirmou nesta segunda-feira que irá se reunir com representantes da União Química, o laboratório brasileiro responsável por produzir a russa Sputnik V, e com a Pfizer. Nenhuma das duas tem, ainda, o aval da Anvisa para suas vacinas.
O presidente da União Química, Fernando Marques, afirmou nesta segunda-feira que pretende começar os estudos em fase 3 (para averiguar a taxa de eficácia) no Brasil assim que a Anvisa permitir. Com isso, o laboratório poderia, após os resultados, solicitar o uso emergencial da Sputnik V.
— Falar agora de qualquer negociação com um laboratório é temeroso porque não sabemos nem se esses laboratórios têm capacidade produtiva para fornecer vacina ao Rio Grande do Sul. Além disso, não temos negativa do Ministério da Saúde de que o governo federal irá ou não adquirir vacinas da Pfizer ou da Moderna. Não temos essa posição definida. O governo do Rio Grande do Sul está buscando atender o maior número de grupos da população gaúcha, primeiro vendo a oferta do Ministério da Saúde, que fornecerá doses gratuitas, e, se possível, complementar o quantitativo dentro do orçamento do Estado. Mas, agora, é aguardar o IFA — complementa Tani.
A Pfizer, em específico, está em tortuosas tratativas com o governo federal. No fim de semana, o Ministério da Saúde divulgou uma nota com fortes críticas ao laboratório. Afirmou, por exemplo, que as condições exigidas pela Pfizer são “abusivas”. A farmacêutica vem afirmando que apresentou ao Brasil as mesmas demandas feitas a todos os países com quem firmou acordo.
Já a União Química chegou a submeter à Anvisa um pedido de autorização para uso emergencial da Sputnik V, mas a agência reguladora negou por falta de documentos básicos. O laboratório já está produzindo vacinas no Brasil porque, caso não haja aval para venda em território nacional, a ideia é exportar para países latino-americanos que permitem a circulação do imunizante.