Nos corredores do Hospital Conceição que recebem os voluntários da vacina da Janssen em Porto Alegre, pairava uma certa agitação nesta quinta-feira (28). Não, não falo de gente aglomerada, porque, no estudo que busca descobrir a eficácia do imunizante contra covid-19 produzido pela empresa que é braço farmacêutico da Johnson & Johnson, tudo é muito organizado. Cada participante, como eu, tem o seu horário de visitas periódicas marcado e respeitado, e até hoje só vi apenas dois ocuparem ao mesmo tempo uma sala grande junto de duas enfermeiras que fazem os procedimentos padrões de cada encontro.
Mas foi inevitável não prestar atenção no questionamento de outra voluntária enquanto eu estava deitada por cinco minutos para tirar a pressão e medir o nível de oxigênio e a temperatura.
— Vocês já sabem quando a gente vai saber se recebeu placebo ou vacina?
Levantei a orelha porque a dúvida também era minha, que tomei a dose teste em final de novembro. Os participantes dos estudos com a vacina CoronaVac e a de Oxford em desenvolvimento no Rio Grande do Sul já vêm sendo avisados sobre o que tomaram e têm sido chamados para o recebimento da dose de verdade, caso tenham recebido placebo. Isso porque elas já foram aprovadas para uso emergencial no país. Mas e a gente?!
A resposta da enfermeira vinha ao encontro do que já tinha lido: não deve demorar para que a Janssen divulgue os resultados da fase 3 de estudos de sua vacina, que são os que comprovam a eficácia em uma população grande de voluntários — neste caso, 45 mil participantes de oito países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, África do Sul e Estados Unidos. A partir daí, existe uma expectativa de que logo a empresa entre com um pedido de uso emergencial nos EUA e, na sequência, no Brasil. E palpito — com base no que ouvi — que esses resultados saiam até fevereiro, com chance do pedido ser feito mais tardar até março.
Mas fato é que minha grande ansiedade é para que a gente tenha logo outra vacina aprovada no Brasil. E a da Janssen tem uma particularidade que facilita a logística para um momento tão crucial em rapidez e estratégia como este: o esquema de dose única e de uma substância de fácil armazenamento — ao contrário dos -70°C do produto da Pfizer.
Outro dia, meu colega Marcel Hartmann lembrou em uma reportagem que o Ministério da Saúde firmou um “memorando de entendimento não vinculante” (há intenção de compra, mas nenhuma dose foi de fato reservada) para comprar 38 milhões de doses da vacina da Janssen. Seriam 3 milhões de doses no segundo trimestre, 8 milhões no terceiro trimestre e 27 milhões no quarto trimestre de 2021.
Ao repórter, a empresa enviou nota sobre a negociação com o governo brasileiro, na qual diz que desde o início da pandemia "tem mantido diálogo contínuo" com "autoridades sanitárias nacionais e internacionais sobre sua vacina candidata contra a covid-19, incluindo o Ministério da Saúde e a Anvisa no Brasil".
Contínuo e rápido: que assim seja!