Com o envio dos resultados de fase 3 da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19, na semana passada, para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cresceu entre os profissionais da saúde a preocupação com o armazenamento do imunizante. Isso porque ele exige condições especiais de abrigo, e a mais sensível delas diz respeito à temperatura de conservação, que deve ficar na casa dos -70°C. Esse pré-requisito torna essencial o uso de ultrafreezers.
Em função dessa demanda urgente, universidades gaúchas voltaram seus olhos para a própria casa e passaram a fazer levantamentos da quantidade e das condições dos seus ultrafreezers. Veja como algumas estão procedendo para colocar à disposição de autoridades sanitárias seus equipamentos para guardar vacinas contra o coronavírus.
UFRGS
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) dispõe de 20 equipamentos, de 550 litros cada, o que daria para armazenar 4 milhões de doses da vacina. Na instituição, há 15 unidades do equipamento, sendo que a maioria está no Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS). Os demais estão distribuídos no Instituto de Biociências, na Faculdade de Agronomia, na Faculdade de Veterinária, no Instituto de Física e na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança.
De acordo com Geraldo Jotz, pró-reitor de Inovação e Relações Institucionais da UFRGS, somam-se a esses outros cinco ultrafreezers que estão em processo de compra e que deverão desembarcar na universidade em 4 de janeiro e 1° de fevereiro de 2021.
— Neste momento, temos capacidade instalada livre de 3 milhões de doses. Com a chegada das outras unidades, chegaremos na casa dos 4 milhões. Por isso, nos oferecemos a nos tornarmos um centro logístico de distribuição da vacina no Estado. Somos uma universidade pública, temos um dever com a sociedade e procuramos servi-la da melhor forma possível. Estamos à disposição dos gaúchos e do Brasil e, se for preciso, servir de abrigo temporário para as vacinas de Estados vizinhos — diz Jotz.
PUCRS
A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) iniciou um trabalho para identificar os ultrafreezers existentes na universidade e que possam ser colocados à disposição para armazenar as vacinas contra o coronavírus. O trabalho consiste em avaliar todas as máquinas, verificando espaço disponível nelas e, para as que estão abastecidas, como os atuais insumos poderiam ser redistribuídos. Também são avaliados eventuais reparos que possam ser necessários.
— Já temos algumas unidades e freezers identificados e estamos fazendo levantamento de mais itens — reforça o reitor da PUCRS, Irmão Evilázio Teixeira.
Parte desses equipamentos que poderão ser colocados à disposição de autoridades sanitárias são dois freezers que eram usados pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Tuberculose, no Parque Científico e Tecnológico da universidade (Tecnopuc) — embora ainda não haja confirmação. A universidade recebeu pedidos da Secretaria Estadual da Saúde e da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre para apresentar alternativas. Também foi acionada pela Aliança para a Inovação, que reúne as maiores universidades da Região Metropolitana.
UFCSPA
Lucia Pellanda, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), os ultrafreezers de que a instituição dispõe estão ocupados com amostras de pesquisas, e só há uma exceção:
— Neste momento temos um ultrafreezer, de 816 litros, que poderia ser usado para o armazenamento das vacinas. A utilização dos demais implicaria o rearranjo de alocação dessas amostras que conservamos. Mas, além dos congeladores, outra contribuição importante que nosso curso de Enfermagem sempre dá é às campanhas de vacinação.
UFPel
Por meio de nota, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) afirmou que tem 18 ultrafreezers. Contudo, “a maioria está lotada com amostras de pesquisas. Ainda não houve contato do poder público. O Comitê Covid-19 fará um levantamento a respeito da capacidade estrutural”.
UFSM
A instituição conta com 20 equipamentos que atingem a temperatura de -70°C. Treze já estão em funcionamento e outros sete passam por manutenção ou estão sendo instalados. Dezenove deles estão em Santa Maria e um no campus de Palmeira das Missões. A Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) afirma que ainda não tem como concluir, neste momento, quantas doses poderiam ser armazenadas, já que não se sabe qual o volume de ocupação de cada frasco da vacina, explica Fábio Duarte, professor do departamento de Química da UFSM e coordenador da PRPGP, setor responsável pelo levantamento.
— A capacidade deles varia bastante, depende muito da marca, do modelo, mas temos alguns que têm capacidade de até 800 litros de volume interno. A gente não tem como estimar ainda porque não sabemos que espaço a dose ocupa — explica o professor.
Há outra questão que já está sendo estudada. Como os equipamentos são de diferentes cursos e centros de pesquisa, como Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Educação Física, Farmácia e Zootecnia, eles estão ocupados, mesmo que parcialmente. Por isso, caso precisem ser usados para armazenar vacinas contra a covid-19, precisará haver um remanejamento.
— Isso vai depender de um acerto interno para fazermos um remanejamento dessas amostras. Não é algo simples, não é só colocar em uma caixa de isopor de levar de um lugar para o outro. Precisa de uma série de cuidados, como transportar em gelo seco. Dependendo da demanda, de quanto for necessário, vamos fazer isso — complementa Duarte.
Unipampa
A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) conta com oito ultrafreezers distribuídos em cinco campi diferentes. Desses oito, quatro estão livres para uso. A campus de Bagé conta com um freezer, o de Uruguaiana tem duas unidades disponíveis e o de Dom Pedrito tem um ultrafreezer livre, mas que precisa de um estabilizador de energia. A capacidade deles varia de 350 a 450 litros cada.
Roberlaine Jorge, reitor da Unipampa, afirma que a instituição está "na linha de frente do enfrentamento à covid-19 desde março" produzindo álcool, máscaras e realizando testes na população.
— Auxiliar nesse processo de armazenamento das vacinas será mais uma ação e, para nossa comunidade acadêmica, isso quer dizer muito, pois significa que estamos cumprindo a nossa função social. Temos compromisso com o bem-estar da comunidade e estamos cumprindo nosso compromisso — pontua.
Unisinos
A Universidade Federal do Vale dos Sinos (Unisinos) conta com quatro ultrafreezers, que estão distribuídos em áreas distintas da instituição: na Engenharia de Alimentos, na Gastronomia, na Microbiologia e no Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde (Nutrifor), detalha Cristiano Richter, diretor da Unidade de Apoio de Operações e Serviços da Unisinos.
— Mas, até onde foi me passado, somente a unidade do Nutrifor teria as características e a tecnologia necessárias para fazer a conservação das doses das vacinas. Estamos em contato com a UFRGS e a PUCRS para articular a disponibilização do equipamento, mas gostaria de ressaltar que, até agora, não recebemos proposta formal do Executivo para a utilização do nosso ultrafreezer — pontua.
O equipamento da Unisinos tem capacidade de armazenamento de 420 litros.
UCPel
A Universidade Católica de Pelotas (UCPel) informou, por meio de nota, que possui quatro ultrafreezers com capacidade de armazenar substâncias até -80°C. Porém, atualmente, "todos eles encontram-se em uso com a conservação de materiais de pesquisas. Três deles estão com ocupação máxima e a quarta unidade com ocupação quase máxima". A instituição informou ainda que os equipamentos são utilizados pelo programa de pós-graduação em Saúde e Comportamento e pelo mestrado profissional em Saúde no Ciclo Vital.
Feevale
A Feevale colocou a disposição de prefeituras do Vale do Sinos os seus potentes freezers para ajudar na conservação de vacinas contra a covid-19. A universidade possui cinco equipamentos com temperatura ultrabaixa, onde parte do espaço pode ser alocado para armazenamento dos imunizantes.
Os freezers estão localizados no Laboratório de Microbiologia Molecular, no Câmpus II, em Novo Hamburgo, e no Laboratório de Saúde Única, no Feevale Techpark, em Campo Bom. Além de suporte de infraestrutura, a universidade se dispôs a auxiliar em outras questões, como na vacinação escalonada por grupos, utilizando equipes dos cursos da área da saúde e estruturas de atendimentos dos próprios campus.