Após a felicidade por dar início à vacinação em massa, o Reino Unido vive momentos de tensão em relação ao coronavírus. Foi encontrada uma nova cepa da doença que tem se mostrado mais contagiosa do que a anterior. Essa variante seria até 70% mais transmissível, conforme informou o primeiro-ministro inglês Boris Johnson. Porém, não há comprovação de que ela seja mais letal. No domingo (20), o ministro britânico da Saúde, Matt Hancock, afirmou que a nova cepa "está fora de controle".
O alerta fez com que medidas mais duras fossem implementadas aos habitantes do Reino Unido com o intuito de conter a transmissão e mais de 10 países da União Europeia interromperam ou restringiram as conexões com a região. Além disso, outras 13 nações de fora do bloco europeu fizeram o mesmo. Entenda o que se sabe sobre o assunto.
Como ocorreu a mutação?
Luciano Goldani, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), explica que é natural os vírus mutarem e se adaptarem à procura do melhor caminho para entrar no corpo humano:
— O coronavírus não tem grande poder de mutação, como o influenza. Contudo, é sabido que os vírus se reinventam com o objetivo de infectar mais hospedeiros. No caso do coronavírus, sabe-se que a mutação ocorreu na proteína spike. É esta região que se liga ao receptor da célula humana. Uma vez feita essa invasão, as células do nosso organismo passam a trabalhar para o coronavírus. E, pelo que se pode observar, essa transformação facilitou a entrada do patógeno no corpo.
Variante torna a infecção por coronavírus mais letal?
Não se sabe ainda. O infectologista observa que, como toda infecção viral, é importante acompanhar a modificação do vírus, realizar estudos para saber responder a uma série de questionamentos que ainda não têm resposta, como se ele é mais letal ou não.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, reforçou nesta segunda-feira (21) que não há indícios de que as variantes de coronavírus identificadas no Reino Unido e na África do Sul causem doença mais severa.
— Vírus mudam o tempo todo, isso é normal — comentou, referindo-se às mutações.
As vacinas funcionarão contra a nova variante?
A notícia boa é que Goldani acredita na eficácia da vacina mesmo com essa variação do vírus:
— As vacinas são imunizantes que ajudam o corpo a criar memória de ataque contra a proteína spike. Uma pequena mutação como essa não seria capaz de alteração o poder de imunização de uma vacina. Para isso acontecer, teria que ser uma mutação maior e expressiva. Contudo, precisamos ficar em estado de alerta, porque ele pode se tornar resistente à vacina se a gente deixar ele se espalhar.
— A boa notícia é que o Reino Unido tem reportado que essa variante do coronavírus não afeta a eficácia da vacina — destaca a epidemiologista Maria Van Kerkhove.
Onde surgiu essa mutação?
A origem desta variação não foi identificada pela medicina, mas segundo a BBC, acredita-se que a variante surgiu em um paciente no Reino Unido ou foi importada de um país com menor capacidade de monitorar as mutações da doença. No momento, essa nova cepa da covid-19 pode ser encontrada em todo o Reino Unido, exceto na Irlanda do Norte. A variante foi mapeada ainda na Dinamarca, na Austrália e na Holanda. Foi notificada uma cepa parecida com a britânica que surgiu na África do Sul, entretanto, elas não estão relacionadas apontou o portal de notícias.
Qual a velocidade com que a variante está se espalhando?
Conforme publicação do portal G1, esta variante foi detectada pela primeira vez em setembro. No mês passado, correspondia a um quarto dos casos em Londres, aumentando para quase dois terços dos casos em dezembro.