O aumento na ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) por pacientes com covid-19 nos últimos dias deixou Porto Alegre mais perto do risco de colapso no sistema de atendimento.
As mais recentes projeções da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) indicam que o esgotamento do teto previsto de 383 leitos para doentes com coronavírus poderia ocorrer até o final de dezembro se for mantido o ritmo atual de avanço da doença — e não na segunda semana de janeiro, como as estatísticas vinham indicando.
O aumento da pressão sobre a rede hospitalar da Capital e possíveis medidas capazes de afastar o risco imediato de superlotação serão discutidos em uma reunião por técnicos da prefeitura nesta segunda-feira (21).
— Sem dúvida, é uma preocupação (piora nas projeções de colapso). Iremos discutir amanhã (segunda-feira) no comitê as medidas a serem tomadas — afirma o secretário adjunto de Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, em referência ao Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus do município.
Nas últimas semanas, a Capital já reativou cerca de 60 leitos de terapia intensiva. Além da tentativa de reforçar a infraestrutura, que esbarra em obstáculos cada vez maiores como a dificuldade para contratar equipes de saúde, outras ações possíveis envolvem restringir a circulação das pessoas e, por consequência, do vírus.
Até as 18h30min deste domingo (20), quando quatro hospitais ainda não haviam inserido suas informações diárias no painel de monitoramento, havia 330 pacientes com covid-19 em estado grave na Capital. O número se manteve estável em relação à véspera, quando havia 333 internados em UTI. O problema é que a tendência ao longo dos sete dias anteriores, período utilizado pela SMS para projetar a demanda por leitos, foi de subida.
Em relação ao domingo anterior, o número de doentes com covid-19 cresceu 13,4%. A média móvel dos últimos sete dias ficou em 308,7 leitos em uso, com acréscimo de 5,5% em relação ao período anterior. Esses dados fizeram com que a projeção de esgotamento do teto de vagas, esperada para a segunda semana de janeiro, agora possa ocorrer por volta de 29 de dezembro.
Os cálculos da SMS indicam que, no ritmo atual, em média 5,6 novos pacientes precisam de UTI a cada dia. Esse agravamento da pandemia na cidade ocorre em um cenário já desafiador: a taxa geral de ocupação das UTIs se encontrava em 90% nos hospitais da cidade.
Como as projeções se baseiam nos registros diários dos hospitais, variações para mais ou para menos podem provocar mudanças nessas contas e adiar ou antecipar a data em que pode ocorrer a sobrecarga da rede.
— Essa antecipação das projeções (de janeiro para o final do mês) revela que o vírus está circulando com velocidade cada vez maior. Como esses cálculos dependem de fatores como o comportamento das pessoas, se há mais aglomerações, o risco de esgotamento se antecipa. Estamos vendo isso com muita preocupação — sustenta o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Petry lembra que as equipes de profissionais de saúde já estão exaustas, e o país tem pela frente períodos como as festas de final de ano e o Carnaval que podem levar o vírus a circular ainda mais. Por isso, defende que sejam tomadas medidas mais duras para evitar que as pessoas se infectem:
— A meu ver, é preciso tomar medidas (para reduzir a mobilidade). Não estamos vendo muita colaboração das pessoas em geral em relação ao distanciamento social. A situação, neste momento, é insustentável.
Internações em UTI por covid-19
Número de doentes graves com coronavírus em Porto Alegre
- 13/12 - 291
- 14/12 - 294
- 15/12 - 297
- 16/12 - 299
- 17/12 - 301
- 18/12 - 307
- 19/12 - 333
- 20/12 - 330
Aumento de 13,4% entre os domingos
Média móvel de pacientes internados
- 7/12 a 13/12 — 292,5
- 14/12 a 20/12 — 308,7
Crescimento de 5,52%