O Estado termina o ano atípico de 2020 com dois recordes negativos na área da saúde. O número de casos totais de dengue identificados em solo gaúcho ainda não foi fechado, mas, até novembro, chegou a 3.597. O total é superior ao registrado em 2010, até então o pior período. O número de mortes, seis, também é o mais expressivo. Além disso, projeções indicam que outra marca inconveniente será batida: o recorde de casos autóctones, quando são descontados os casos importados e considerados apenas os contágios dentro do Rio Grande do Sul.
De acordo com o último boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (SES), foram contabilizados 3.308 casos autóctones até o dia 21 de novembro. Em 2010, a contagem foi até 3.339, isto é, somente 31 a mais. Como ainda faltam os dados de 40 dias, justamente com o marco da chegada do verão, agentes de saúde acreditam que o número será o maior da série histórica.
Coordenadora do Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes da SES, Carmen Gomes acredita que os reflexos da alta infestação do Aedes aegypti não ficarão restritos a este ano, podendo, inclusive, bater novo recorde em 2021.
— Agora nós entramos em uma época em que, normalmente, a população do inseto aumenta significativamente com as altas temperaturas e a umidade. E pelo o alto número de casos em 2020, a gente pode esperar que em 2021 a gente consiga manter o mesmo patamar ou teremos um número maior de casos — relata.
O Rio Grande do Sul conseguiu zerar os casos de dengue autóctones nos anos de 2017 e 2018, quando foram registrados apenas 18 casos em cada ano, todos de pessoas que se contaminaram fora do Estado. Em 2019, o número saltou para 1.315 casos totais, sendo 1.170 autóctones.
A explosão de casos em solo gaúcho em 2020 pode ser atribuída a diversos fatores. Entre eles, está o aumento dos números da doença no país, a estiagem, a pandemia de coronavírus e proximidade com a Argentina, que também enfrenta problemas com o Aedes aegypti.
— Muitos municípios acabaram sofrendo com a falta de água, o que fez com que pessoas armazenassem água em tonéis e caixas d’água, muitas vezes, não vedadas de forma que impeça o mosquito de fazer a postura (de colocar os ovos) — pontua Carmen.
Ainda, com a pandemia, as ações de agentes de combate a endemias tiveram que ser modificadas, já que há limitações para que os servidores acessem pátios e residências, o que torna as vistorias menos efetivas em casas com moradores do grupo de risco para o coronavírus. No entanto, Carmen salienta que a orientação da SES é para que prefeituras mantenham o trabalho dos agentes.
Casos
Do total de 3.308 casos autóctones gaúchos, 76,6% são de moradores dos municípios de Três Passos (429), Santo Ângelo (411), Santo Cristo (272), Constantina (258), Coronel Bicaco (243), Santa Maria (229), Santa Rosa (214), Cerro Largo (173), Venâncio Aires (165) e Palmitinho (141).
Dos seis óbitos, dois foram de moradores de Santo Ângelo, um de Venâncio Aires e três de Santo Cristo. Até então, o Rio Grande do Sul somava três mortes por dengue: uma em 2010 e duas em 2015.
Prevenção
De acordo com Carmen Gomes, a dengue tem uma característica de explosão e rápida disseminação. Isso ocorre devido à característica do inseto, que pica os humanos durante o dia, o que faz com que várias pessoas sejam infectadas por um único mosquito.
Por isso, a melhor maneira de prevenir a doença é evitando a proliferação do Aedes aegypti. A maneira mais efetiva de evitar uma infestação é não deixando água parada a céu aberto, já que é nesse ambiente que o mosquito deposita seus ovos.