Enquanto as atenções se voltam à pandemia do coronavírus, outra doença começa a preocupar as autoridades no Rio Grande do Sul. De janeiro até abril, quatro pessoas morreram por dengue no Estado – maior número de vítimas apontado pela série história iniciada no ano 2000. Em 2015, até então considerado o ápice, foram dois óbitos.
De acordo com a responsável pelo programa das Arboviroses na Secretaria Estadual da Saúde (SES), Catia Favreto, cinco municípios concentram 65% dos casos de dengue autóctone em solo gaúcho. São eles: Cerro Largo, Constantina, Santa Rosa, Santo Cristo e Três Passos, todos na região Noroeste.
— Quanto mais municípios infestados por mosquitos, maior a chance de termos um grande número de casos confirmados da doença — alerta.
No último boletim epidemiológico divulgado pela SES, que leva em consideração os dados até 14 de abril, o Rio Grande do Sul somava 387 cidades infestadas pelo Aedes aegypti e 1.232 casos confirmados de dengue, sendo 999 autóctones, isso é, contraídos dentro do território gaúcho. É o terceiro maior número de casos desde 2010. Em termos de comparação, o Estado não teve casos autóctones em todo o ano de 2017 e 2018.
— A região Noroeste vem há muitos anos com grande índice de infestação pelo Aedes, por uma questão socioambiental, pelo clima mais favorável ao mosquito e pela população acabar relaxando os cuidados de evitar água parada — observa.
Para Catia, o combate ao avanço da dengue passa, de maneira determinante, pelos cuidados da população na higiene e limpeza de suas casas e terrenos.
— A redução no número de casos confirmados depende da redução no índice de infestação. Quanto mais as pessoas não deixarem água parada, menor será a propagação do mosquito — ressalta.
Histórico da doença
Conforme dados do Ministério da Saúde, há referências de epidemias pela dengue desde o século XIX no Brasil. Há relatos em São Paulo, em 1916, em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1923, mas ambos sem diagnóstico laboratorial. A primeira epidemia, documentada clínica e laboratorialmente, ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista, em Roraima. Em 1986, ocorreram epidemias no Rio de Janeiro e em algumas capitais da região Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorrendo no Brasil de forma continuada.
No período entre 2002 a 2011, a dengue se consolidou como um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil. Nele, a epidemiologia da doença apresentou alterações importantes, destacando-se o maior número de casos e hospitalizações, com epidemias de grande magnitude, o agravamento do processo de interiorização da transmissão, com registro de casos em municípios de diferentes portes populacionais e a ocorrência de casos graves acometendo pessoas em idades extremas, como crianças e idosos.
Segundo o governo federal, aproximadamente 90% das epidemias ocorreram em municípios com até 500 mil habitantes, sendo que quase 50% delas em municípios com população menor do que 100 mil habitantes.