Enquanto se vive uma pandemia por conta do coronavírus, o Rio Grande do Sul registrou o maior número de mortes por dengue desde 2010. De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (SES) divulgado nesta quinta-feira (4), o Estado tem seis óbitos pela doença de janeiro a maio deste ano. Antes disso, os agentes de saúde contabilizavam uma vítima fatal, em 2010, e duas mortes, em 2015. De acordo com a responsável pelo programa das arboviroses na SES, Catia Favreto, o aumento no número de mortes está relacionado à quantidade de casos confirmados.
— São 387 municípios infestados pelo Aedes aegypti, isso é 77,8% das cidades gaúchas — alerta.
Segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde, 3.160 casos de dengue foram confirmados no Estado entre janeiro e 30 de maio deste ano. Destes, 2.784 são autóctones, isto é, contraídos dentro do território gaúcho. Ainda há 713 suspeitas em investigação. Se a quantidade de novos casos seguir, 2020 pode ser o pior ano em número de casos da série histórica, superando o pico de 2010.
— Neste momento em que as pessoas estão em casa, devem realizar limpeza dos pátios, dos terrenos, não armazenar água, isso evita criadouros de mosquitos — orienta Catia.
Os casos fatais da dengue foram registrados em Santo Ângelo, nas Missões, com duas mortes; Santo Cristo, no Noroeste, com três vítimas fatais; e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, com um óbito.
A região Noroeste é considerada a de maior índice de infestação pelo Aedes. Segundo Catia, o motivo seria a questão socioambiental.
— Pelo clima mais favorável ao mosquito e pela população acabar relaxando os cuidados de evitar água parada — observa.
Conforme dados da SES, dos casos autóctones, 73,5% correspondem a moradores dos municípios de Cerro Largo, Santo Ângelo, Venâncio Aires, Santa Rosa, Santo Cristo, Constantina, Coronel Bicaco, Palmitinho e Três Passos.
— Sempre trabalhamos para que não ocorra óbito por dengue. Nesses locais, além dos cuidados com focos do mosquito, os moradores podem usar repelentes como forma de proteção — salienta.
Perfil das mortes por dengue*
SANTO ÂNGELO - dois óbitos com resultado laboratorial de dengue pelo Lacen
- Mulher de 70 anos. Teve início dos sintomas em 21 de março, com internação no Hospital da Unimed em 25 de março. Morreu dois dias depois.
- Mulher de 74 anos. Início dos sintomas em 2 de abril, onde procurou a UPA do município com febre, mialgia, cefaleia e artralgia intensa. Recebeu atendimento e foi liberada. Procurou o atendimento no Hospital de Santo Ângelo em 12 de abril, onde foi internada e veio a óbito um dia depois.
SANTO CRISTO - três óbitos com resultado laboratorial de dengue pelo Lacen
- Homem de 60 anos. Início dos sintomas em 29 de março, com febre, mialgia, cefaleia, exantema, náuseas, dores nas costas, artralgia intensa e dor retro-orbital. Procurou atendimento no Hospital de Caridade de Santo Cristo em 31 de março, onde realizou um teste rápido para dengue que resultou positivo. Mesmo assim, foi liberado. Em 1º de abril, foi internado no Hospital Vida e Saúde de Santa Rosa, com óbito em 2 de abril.
- Homem de 77 anos, com início dos sintomas em 6 de março, com febre, mialgia e petéquias, internou no Hospital de Caridade de Santo Cristo. Em 7 de março, começou com tosse produtiva com expectoração, cianose nas extremidades e hiperemia nos olhos com diminuição da saturação, onde foi transferido para o Hospital Vida e Saúde de Santa Rosa, com óbito em 13 de março.
- Homem de 88 anos, com início dos sintomas em 14 de abril com febre, mialgia, vômitos, náuseas, artralgia intensa e leucopenia, internou no Hospital Vida e Saúde de Santa Rosa. Em 21 de abril foi transferido para a UTI, onde evoluiu para uma pneumonia aspirativa, com óbito em 22 de abril.
VENÂNCIO AIRES - um óbito, com resultado laboratorial de dengue pelo Lacen
- Mulher de 67 anos, com início dos sintomas em 14 de maio com cefaleia e dispneia, internou na UTI do Hospital Geral São Sebastião em 15 de maio. Realizou teste RT-PCR para covid-19 em 18 de maio com resultado negativo. No dia 22, realizou coleta para dengue e encaminhou ao Lacen com resultado reagente, e veio a óbito no mesmo dia.
*Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES)