O Rio Grande do Sul fechou novembro com número recorde de casos confirmados de coronavírus em um mês: 69,8 mil. Além disso, o ritmo de contágio é acelerado entre adolescentes de 15 a 19 anos e jovens entre 20 e 29 anos. Somadas, essas duas faixas etárias registraram 17 mil casos no mês passado, o maior índice desde o início da pandemia, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde. Isso equivale a 24% do total de infectados, ou uma em cada quatro ocorrências no Estado.
Até então, agosto havia sido o ápice da pandemia no Estado, com 66,2 mil testes positivos para covid-19. Com isso, novembro terminou com aumento de 5,4% nas ocorrências frente àquele período. Levando em conta a divisão por idade dos pacientes, realizada pelo governo estadual, as duas faixas que tiveram maior incremento percentual, entre os dois períodos, são justamente 15 a 19 anos (24%) e 20 a 29 (20,3%).
Na ótica de epidemiologistas, diversos fatores explicam o avanço da pandemia no Estado, em especial entre os jovens. A flexibilização das medidas de distanciamento social, o esgotamento mental das pessoas em relação à pandemia e a falsa sensação de que a doença estava sob controle após um momento de recuo nos casos estão entre os fatores mencionados por profissionais da saúde para o crescimento exponencial do coronavírus nas últimas semanas no Estado.
— Em paralelo a tudo isso, as medidas de proteção individuais, como o uso da máscara e do álcool em gel, foram relaxadas — lamenta Paulo Gewehr Filho, médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento.
O especialista ainda nota que o incremento no ritmo de contágios no Estado, em especial nos jovens, ganhou força a partir da segunda quinzena de outubro. Desde então, o retorno das temperaturas amenas, os feriados prolongados e até mesmo as eleições municipais levaram a um aumento na circulação de pessoas. Com isso, aglomerações se tornaram mais frequentes e isso está se refletindo em novos casos de covid-19.
Letalidade
Ainda que representem 24% dos casos de covid-19 no Rio Grande do Sul em novembro, os jovens de 15 a 29 anos estão ligados a apenas 0,4% dos óbitos provocados pela doença no período. A baixa letalidade nesta camada da população também é encarada pelos infectologistas como um possível motivo para que ela esteja se resguardando menos e, por vezes, protagonizando aglomerações.
O chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, constata que são raros os casos de pessoas de até 29 anos hospitalizadas neste momento, mas isso não significa que a evolução da doença nesses grupos não preocupe quem está na linha de frente do combate à doença.
— Os jovens, em sua maioria, podem até não ter um curso complicado da infecção. Mas eles estão circulando e podem transmitir para outras pessoas mais vulneráveis que poderão, sim, se complicar — ressalta Sprinz.
O médico alerta ainda que a perspectiva em relação à evolução da pandemia nas próximas semanas é preocupante. Por isso, ele faz um apelo para que as pessoas, sobretudo os jovens, evitem aglomerações e reforcem os cuidados pessoais, como o uso de máscara e álcool em gel, e lembra que a vacina contra a covid-19 está cada vez mais perto de ser disponibilizada.
Psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS), Luciana Fossi analisa que a flexibilização para abertura de cinemas, shoppings e espaços públicos e privados de lazer foi interpretada por muitas pessoas sob uma ótica de “normalização”.
— Depois de nove meses de pandemia, todo mundo está bastante esgotado, principalmente os jovens, que têm essa necessidade grande de se encontrar e ter a manutenção dos laços sociais — salienta.
Em meio a esse cenário, Luciana lembra que é importante que os jovens pensem nos idosos e nas pessoas mais vulneráveis e reforcem a cautela neste momento da pandemia.