Ainda pouco conhecida em estudos sobre o coronavírus, a reinfecção pela covid-19 passou a ser a provável causa dos sintomas de sete profissionais de saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Os funcionários são considerados suspeitos para um novo episódio da doença — a instituição já trata o caso como "provável reinfecção".
Os profissionais testaram positivo para o coronavírus no início da pandemia por meio do método RT-PCR. Entre outubro e novembro deste ano, voltaram a apresentar quadro viral e testaram positivo novamente, também por meio do exame RT-PCR (considerado o padrão-ouro na detecção da doença). Pelo protocolo da Secretaria Estadual de Saúde (SES), são considerados suspeitos de reinfecção os casos em que os resultados têm intervalo igual ou superior a 90 dias, caso das sete pessoas envolvidas.
O hospital, então, optou por fazer outros dois exames para aprofundar a pesquisa. Os primeiros profissionais foram testados para outros vírus e bactérias, o que reforçou a suspeita de reinfecção. Além disso, foi feito exame imunológico, que identificou que parte deles não tinha produzido resposta imune para a doença.
— Podemos dizer que é uma provável reinfecção. Essa é a definição feita pelo hospital. Eles seguem o mesmo protocolo de todos que são considerados infectados: foram afastados por pelo menos 10 dias — explica o médico Fábio Fernandes Dantas Filho, chefe do Serviço de Medicina Ocupacional do HCPA.
O único método que permitiria confirmar o diagnóstico de reinfecção é o sequenciamento genético das duas amostras que atestaram a presença do vírus, no primeiro e no segundo episódio. O exame, no entanto, é considerado de acesso restrito. O Hospital de Clínicas manteve as amostras referentes aos funcionários — mais de 5,8 mil testes já foram aplicados em profissionais de saúde — e enviou uma delas para o sequenciamento, que é feito em outro local. O resultado, no entanto, foi de que não havia material genético suficiente.
— Só é possível confirmar que é reinfecção quando for possível demonstrar que, na primeira, houve material genético diferente da segunda. É preciso provar que não é o mesmo vírus que permaneceu no corpo, mas que são materiais genéticos diferentes. De qualquer forma, isso não altera em nada os protocolos adotados. Por isso, os casos permanecem sendo tratados como "provável infecção" — explicou.
Os profissionais não tiveram quadro grave e cumpriram isolamento, conforme recomendado em todos os casos de contágio por coronavírus.
Reforço nos cuidados
Fábio Dantas avalia que um dos fatores limitantes no mundo para a confirmação de reinfecção é a dificuldade de armazenar as amostras de toda a população que for testada. No entanto, o material que envolve profissionais de saúde está sendo armazenado pelo Clínicas — inclusive, é esta a recomendação da SES para todos os trabalhadores da área (leia abaixo).
A reinfecção pode ser, inclusive, assintomática. Isso só reforça a importância do protocolo de uso de máscaras e distanciamento
FÁBIO FERNANDES DANTAS FILHO
Chefe do Serviço de Medicina Ocupacional do HCPA
Para o chefe do Serviço de Medicina Ocupacional do HCPA, a chance de haver reinfecção reforça os cuidados que a população deve ter com a doença:
— A reinfecção pode ser, inclusive, assintomática. Isso só reforça a importância do protocolo de uso de máscaras e distanciamento.
O que diz a Secretaria Estadual de Saúde
"O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) iniciou o monitoramento de possíveis casos de reinfecção em outubro de 2020. Considera-se hoje suspeito o indivíduo com dois resultados detectáveis por RT-PCR para o SARSCoV-2, com intervalo igual ou superior a 90 dias entre os dois episódios.
A investigação é realizada através do sequenciamento genômico das duas amostras que tiveram resultado detectável, para comprovação de que se tratam de infecções em episódios diversos, por cepas virais diferentes. Isso é feito pois uma pessoa que se recuperou da Covid-19 pode ainda ter baixos níveis do vírus no organismo por alguns meses após o diagnóstico, podendo continuar a ter um resultado detectável (RT-PCR), mesmo que não esteja transmitindo o vírus. Portanto, é necessária a disponibilidade das duas amostras biológicas, com conservação adequada, para dar prosseguimento à investigação.
Não há até o momento um avanço na quantificação dessas suspeitas pois, no momento, o processo ainda encontra-se na fase de identificar esses casos e fazer a busca por essas duas alíquotas. A orientação do Centro de Operações de Emergência (COE/RS) é que amostras detectáveis dos trabalhadores de saúde sejam armazenadas em freezer -80°C, naqueles laboratórios que possuem esse equipamento, por no mínimo 180 dias."
O que diz o Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde tem prestado apoio às equipes de vigilância das secretarias estaduais e municipais de saúde envolvidas na investigação de supostos casos de reinfecção por Covid-19 e informa que, até o momento, não há casos confirmados no Brasil.
Os supostos casos de reinfecção estão sendo acompanhados pelo Ministério da Saúde, com apoio de especialistas dos Laboratórios de Referência Nacional (Fiocruz, Instituto Adolfo Lutz e Instituto Evandro Chagas).