Apesar de ainda ser geradora de numerosas perguntas e dúvidas, a vacina contra a covid-19 Sputnik V, de origem russa, começará a ser aplicada na população da vizinha Argentina a partir desta terça-feira (29).
Profissionais da área da saúde serão os primeiros a receber as doses desenvolvidas pelo Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, de Moscou, que divulgou que a eficácia do imunizante é de 91,4% — para casos graves da doença, o resultado seria de 100%, de acordo com os desenvolvedores. No Brasil, a Sputnik V está nos planos dos governos do Paraná e da Bahia, ainda sem um calendário conhecido para testagem, regulamentação e produção.
Detalhes do estudo da Rússia ainda não foram publicados em algum periódico especializado, etapa considerada fundamental pela comunidade científica internacional. Na Argentina, apesar da falta de acesso a dados, a urgência ditada pela pandemia de coronavírus foi suficiente para dar a largada naquele que vem sendo considerado o maior plano de imunização da história do país.
Em entrevista ao jornal Clarín, Jorge Gilardi, presidente da Associação de Médicos Municipais da Cidade Autônoma de Buenos Aires, declarou:
— Se há dúvidas? Sim. Algumas certezas também. Na análise custo-benefício, decidimos que temos de aplicá-la. Gostaríamos de ter mais informações, mas vamos aplicá-la mesmo assim.
A primeira manifestação pública de interesse da administração do governador Ratinho Júnior (PSD) ocorreu em agosto, quando o presidente Vladimir Putin anunciou que a Rússia havia aprovado a primeira vacina do planeta contra a covid-19 — apesar das críticas generalizadas sobre a falta de transparência e a rapidez com que o processo foi conduzido.
Contatado por GZH, o Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar), empresa pública do governo estadual, limitou-se a enviar uma nota por meio de sua assessoria de imprensa. Em reunião realizada neste mês, conforme o texto, o TecPar reafirmou seu compromisso com o Fundo Russo de Investimentos Diretos, parceiro do Gamaleya, e redefiniu as ações do projeto.
O TecPar "será o representante da vacina Sputnik V junto ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde", assim que o registro seja concedido pelos órgãos regulatórios no Brasil. "O acordo prevê também a possibilidade de transferência de tecnologia ao TecPar, para que o instituto seja um dos parceiros científicos e tecnológicos do Fundo no país", acrescenta o comunicado. Hospitais universitários estaduais do Paraná foram colocados à disposição para a execução da fase 3 (a última, que demonstra a eficácia, após a administração das doses em voluntários) em território brasileiro.
Informações a respeito dos prazos para os trâmites burocráticos estão a cargo do Fundo Russo de Investimentos Diretos, até que se obtenha o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Questionado pela reportagem, Arseny Palagin, secretário de imprensa do Fundo — que auxilia o Gamaleya na organização de estudos, na distribuição e na produção do produto no mundo —, afirmou não poder revelar detalhes, nem mesmo sobre as expectativa quanto a um possível calendário.
— Não vamos comentar o assunto até que estejam encerradas as conversações com a Anvisa — disse Palagin.