Foco da maior parte dos surtos de coronavírus no Rio Grande do Sul, asilos e casas geriátricas, as chamadas instituições de longa permanência para idosos (ILPIs), concentram o grupo mais vulnerável às complicações da covid-19. Essas pessoas estão sofrendo também com um dos grandes efeitos prejudiciais do distanciamento social: o afastamento de familiares e amigos devido à suspensão ou restrição das visitas presenciais, dado o risco de infecção pelo sars-cov-2.
Portaria publicada pela Secretaria Estadual da Saúde em maio determina que medidas as ILPIs devem implementar para a prevenção e o controle da doença. A visitação é permitida, devendo obedecer a uma série de cuidados: é necessário agendar horários, reduzir o número de visitantes por paciente e assegurar distanciamento mínimo de dois metros, entre outros. A instituição terá de prover os itens necessários para a higienização das mãos dos visitantes antes do ingresso na área dos residentes e também na saída.
Recomendações e normativas podem variar entre as cidades. Em Porto Alegre, por exemplo, a relação mais recente de procedimentos a serem cumpridos pelas ILPIs foi divulgada em setembro. A Secretaria Municipal de Saúde restringe as visitas presenciais, com exceção daquelas direcionadas a pacientes em fase final de vida e/ou cuidados paliativos (alívio dos sintomas para doenças sem chance de cura). Nesses casos, os familiares também precisam obedecer a diversas medidas para ter a entrada autorizada.
Fora das ILPIs, indivíduos acima de 60 anos que moram sozinhos também enfrentam o forte impacto emocional da falta do convívio com filhos, netos e grupos sociais. Ainda que em nome do objetivo da preservação da integridade física, o confinamento para os grupos de risco está se estendendo para muito além do que se previa quando a pandemia chegou ao Brasil. Presidente da Sociedade de Geriatria e Gerontologia do Rio Grande do Sul, o médico geriatra João Senger sugere que breves contatos sejam retomados, respeitando-se o distanciamento mínimo entre pessoas, o uso de máscara e a higienização das mãos.
— Não dá mais para afastar esses idosos totalmente da família. Eles começam a se sentir rejeitados. Vamos criar outros problemas, como depressão, ansiedade, insônia. Temos que começar a pensar um pouquinho com o coração. Não podemos sacrificá-los demais. Se não afrouxarmos um pouco, vamos perdê-los por outras coisas — argumenta Senger, lembrando que, com o temor do contágio em unidades de saúde, idosos acabaram deixando de procurar atendimento em momentos críticos ou interromperam o tratamento de doenças crônicas, e graves consequências estão aparecendo agora.
Idosos que acompanham o noticiário, com reportagens mostrando a impossibilidade de se prever o fim da pandemia, podem imaginar que morrerão sozinhos, sem a chance de reencontrar as pessoas que amam. Recursos online, como as videochamadas, funcionam por um período, diz o geriatra, mas, para os menos acostumados com tecnologia, não surtem mais efeito a certa altura.
— Vovôs e vovós de 80, 90 anos querem abraçar. Escuto isso: “Estou cansado de falar no celular, quero dar um abraço” — conta Senger. — Temos que começar a dar uma liberada, mas respeitando as regras. O que não pode existir é o isolamento afetivo — complementa.
Beijos e abraços ainda devem ser evitados, mas rápidas passagens pela casa de pais e avós podem ser benéficas mesmo sem contato físico. Se for viável se reunir ao ar livre, melhor. Do contrário, os visitantes precisam descalçar os sapatos na porta. Manter distância de um metro e meio e lavar bem as mãos é obrigatório em qualquer circunstância. A residência deve estar bem arejada, com pelo menos uma porta ou janela abertas, mesmo em dias frios. Todos necessitam usar máscaras o tempo todo.
— Pegar na mão, os dois estando com as mãos limpas, não tem problema — orienta o geriatra.
A enfermeira Maria Cristina Sant’Anna da Silva, coordenadora da seção gaúcha do Departamento Científico de Enfermagem Gerontológica da Associação Brasileira de Enfermagem, sugere ainda que as superfícies e os objetos que forem tocados pelos visitantes sejam limpos. Especialista em gerontologia, ela salienta a importância do contato visual para aplacar a saudade e para que se possa ter melhor ideia da condição do idoso.
— Sem visitas, a pessoa vai ficando mais triste — diz a enfermeira.
É fundamental, destaca Maria Cristina, que os idosos se mantenham ativos, mas sem se expor a risco demasiado — saindo de casa apenas para atividades essenciais e privilegiando locais e horários de menor movimento —, e tomando sol. Pessoas com alterações cognitivas e confusão mental devem ser supervisionadas.
Senger destaca que são permitidas pequenas concessões a familiares, mas, no que se refere às ILPIs, não é possível aliviar as restrições para funcionários — mais expostos por circularem na rua e também dentro das instituições, de forma contínua. A atenção extrema com a higiene vale, da mesma maneira, para cuidadores que trabalham a domicílio.