O surto de covid-19 em um lar de idosos em Gramado, na Serra, contribuiu para elevar uma cifra já preocupante no Rio Grande do Sul.
Desde o início da pandemia até o começo da tarde desta sexta-feira (18), pelo menos 307 moradores de asilos morreram em razão do coronavírus. Somente esse tipo de estabelecimento responde por 50,4% de todos os surtos da doença já documentados no Estado em ambientes como frigoríficos e outras empresas.
Até o momento, nove idosos se tornaram vítimas do vírus no Santa Ana Residencial Geriátrico de Gramado — 3% dos óbitos provocados pela pandemia entre moradores dessas instituições em solo gaúcho. A disseminação da covid foi identificada no começo de setembro no local, onde 22 dos 30 moradores testaram positivo. Dois seguem internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e mais um em leito de enfermaria. Entre os 12 funcionários contaminados, dois estão hospitalizados.
O episódio ajuda a ilustrar o impacto que a pandemia provoca em casas voltadas ao acolhimento de idosos no Estado. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) já identificou 226 surtos nesses estabelecimentos, dos quais 142 foram classificados como "encerrados" (não houve novos casos em um período de 15 dias), e outros 84 seguem ativos. Existem, atualmente, cerca de 800 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) no Rio Grande do Sul que representam pontos de alto risco para contágios e complicações decorrentes do coronavírus.
— Os idosos têm naturalmente mais vulnerabilidade (à covid) e mais comorbidades. Além disso, nesses locais, eles convivem muito próximos uns dos outros. Há uma aglomeração natural — observa o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Outro problema, segundo o especialista, é que os moradores podem até permanecer isolados, mas os profissionais que lidam com eles circulam pelas cidades e podem se contaminar e transmitir a doença mesmo sem perceber sintomas.
— Há situações em que esses profissionais precisam ter contato muito próximo com os idosos, podendo até ser necessário dar banho ou comida na boca — observa Petry.
Por esses motivos, há rígidos protocolos de saúde a serem seguidos. Mas, até o momento, não foram suficientes para evitar um elevado número de óbitos. Por meio de nota, a SES informa que "priorizou desde o início da pandemia a testagem de residentes e trabalhadores" das ILPIs. Relata que também foram criados "protocolos de segurança específicos, mantendo permanente atuação na prevenção e na fiscalização do cumprimento das normas. Todos os casos notificados de surtos são acompanhados pelo Centro de Operações de Emergência (COE) da SES até o encerramento de casos nas instituições, a partir das informações prestadas pelos órgãos municipais de vigilância".
Surtos de covid se transformaram em problema mundial
Os surtos de coronavírus em ambientes destinados a acolher idosos se transformaram em um problema global desde o começo da pandemia. Países europeus, Estados Unidos, Canadá, além de outros Estados brasileiros, registraram contágios localizados da covid-19 com grande número de vítimas nesses ambientes.
Em escala global, um dos surtos mais violentos ocorreu em Andover, nos EUA, onde 70 idosos morreram desde o começo de abril — depois se descobriu que o local tinha higiene precária, aglomeração de residentes e poucos funcionários. No Canadá, 31 moradores de um lar morreram após terem sido abandonados pelas equipes que os atendiam também em abril. A descoberta do episódio chocou o país.
No Brasil, um dos casos mais graves vistos desde o começo da pandemia matou 32 idosos no Lar dos Velhinhos, em Piracicaba (SP). A assessoria de comunicação da prefeitura da cidade paulista informou a GZH que uma das razões para a mortandade foi o elevado número de moradores naquele espaço — perto de 500. Segundo a administração municipal, após intervenções da Secretaria de Saúde daquela cidade, o último óbito foi registrado em 1º de setembro.
Pelos dados do governo estadual, a região de saúde de Porto Alegre é a que apresenta maior número de surtos de categoria 3, que inclui instituições de longa permanência de idosos, penitenciárias e outras áreas ligadas à administração pública. Até 8 de setembro, haviam sido identificados 94 episódios na Capital e nos municípios próximos.
A prefeitura de Porto Alegre registrava até 15 de setembro, conforme o mais recente boletim epidemiológico municipal, 17 surtos ainda ativos em instituições de longa permanência especificamente de idosos, entre um total de 72 episódios em curso na cidade até aquela data.