Recentemente, um grupo internacional de cientistas solicitou aos governos que mudassem suas estratégias de combate ao coronavírus e permitissem que pessoas jovens e saudáveis voltassem à vida normal, protegendo, assim, somente os que fazem parte do grupo de risco. A proposta, batizada de Declaração do Grande Barrington, foi feita por três pesquisadores nos EUA e convidava cidadãos comuns, médicos e cientistas a assinarem em defesa do conceito de imunidade de rebanho. Contudo, segundo o portal Sky News, dentre as mais de 26 mil assinaturas de especialistas no documento, foi encontrada uma série de nomes aparentemente falsos, como o médico Johnny Bananas e o Person Fakename.
Quando foi lançada, a carta chegou a receber o apoio de nomes como o senador americano Rand Paul, de Kentucky. Além disso, acadêmicos individuais das universidades de Oxford, Cambridge, Harvard, Stanford entre outros também estavam entre os signatários do documento. Ainda que o site da declaração faça a divisão por cidadão comum ou médico, é possível que qualquer indivíduo adicione seu nome à lista em qualquer das categorias, desde que escreva seu endereço de e-mail, cidade de origem e código postal. Se marcar a opção médico, há apenas um campo pedindo as credenciais, mas sem pedido de documentação que comprove.
Além disso, o portal apontou que foram descobertos 18 homeopatas autodeclarados na lista de nomes de especialistas e mais de cem terapeutas cujas especialidades incluíam massagem e hipnoterapia. O que, de acordo com o periódico, pode ter colaborado para o expressivo número de assinaturas angariadas.
Conforme fontes ouvidas pelo jornal inglês Independent, a proposta de proteção focada, significaria cercar comunidades vulneráveis, como pessoas que vivem em lares de idosos ou aposentados, para protegê-los da covid-19. Enquanto pessoas que não são classificadas como de risco poderiam ter a permissão para retomar a vida normal.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) publicou nota afirmando que o conteúdo da carta agride o consenso internacional de respeito às medidas de enfrentamento ao coronavírus, que inclui o distanciamento físico, uso de máscara e higiene das mãos. Ressaltou que, enquanto se discute a gradual reabertura de escolas, com o objetivo de preservar a vida dos jovens e crianças “esse manifesto propõe uma reviravolta completa nesse consenso, preconizando que a melhor maneira de enfrentar a pandemia seria forçar o que vem sendo chamado de imunidade de rebanho, isto é, que seja estimulado o contato físico entre as pessoas.”
Por fim, a entidade rechaça por completo a proposta da declaração ao afirmar que “essa proposta nada mais é do que um relançamento da estratégia daquilo que se chamou há meses de um “isolamento vertical”, que saiu de cena tão rapidamente quanto entrou, comprovada a sua falta de qualquer sustentação clínica, imunológica, epidemiológica e ética.