O médico oncologista Drauzio Varella avaliou, nesta quarta-feira (2), em entrevista ao programa Timeline Gaúcha, que ainda não é o momento para o retorno das aulas presenciais, sob o ponto de vista médico. Ele ressaltou, no entanto, que há aspectos de aprendizagem a serem observados ao tratar do tema, que tem sido discutido no país, nos âmbito estadual e municipal, com a proposta de novos calendários detalhando a retomada.
— Essa questão não tem resposta simples. Se a gente for pensar do ponto de vista médico, o ideal seria que não começasse. Mas tem outros aspectos. Primeiro, não é uma questão só para os médicos decidirem, para educadores decidirem também. Tem um problema com essas crianças fora das aulas. Aquelas que tem internet banda larga em casa levam uma vantagem com relação às outras. Essas outras, que fazem parte da periferia, deixam de ser estimuladas e podem desenvolver déficits cognitivos irreparáveis — argumentou.
O principal fator apontado por Drauzio com relação a retomada, e que vai ao encontro da avaliação de outros especialistas, é de o vírus ainda está com alta circulação nas regiões. O médico enfatiza que as crianças "dificilmente vão ter problemas, mas eles vão levar o vírus para casa".
— Acho que tem que planejar a volta às aulas. Isso significa que não vai ser igual em todas as cidades. Como distribuir material de proteção? Não é pouca coisa, não. Temos escolas em todos os municípios. Como faz o preparo para receber os alunos? Não pode dizer que começa às aulas e eles irem. Dificilmente (as crianças) vão ter problemas, mas eles vão levar o vírus para casa — afirmou.
— O melhor é não abrir nada, deixa assim, mas chega uma hora que como vai se fazer (sem aula)? — indagou.
Para o médico, o Brasil tem "um nível de irresponsabilidade social que é absurda". Ele corroborou com argumento de quem propõe a retomada:
— Tem cabimento abrir shopping e não abrir escola? Tem cabimento as pessoas coladas na praia e a escola, que é uma situação mais controlada, estar parada? É um argumento forte também. Temos um nível irresponsabilidade social que é absurda. Aquelas cenas de festas em apartamentos, pancadão acontecendo. Isso é uma irresponsabilidade e o Brasil está pagando o preço. A pandemia não acaba. E não vai acabar até fevereiro (se o retorno das aulas for transferido para o ano que vem).