O estudo com a vacina chinesa contra o coronavírus no Hospital São Lucas da PUCRS foi retomado na quinta-feira, após uma pausa na aplicação de doses teste para que os pesquisadores pudessem avaliar e revisar os protocolos e a logística da pesquisa, que começou no sábado passado com 10 voluntários. Tida como uma das mais promissoras contra a covid-19, a imunização está na última fase de análises, que avalia a segurança e a eficácia do produto desenvolvido pela farmacêutica Sinovac.
Coordenada pelo Instituto Butantan, de São Paulo, a pesquisa conta com a participação de 852 voluntários em Porto Alegre — todos profissionais de saúde que estão trabalhando no atendimento aos pacientes com covid-19. A etapa de teste, com a administração de duas doses - que podem ser de placebo ou do imunizante - em cada participante, deve ser concluída em 60 dias.
A jornada do voluntário que se dispõe a participar do estudo dura em torno de três horas. Ao chegar no Centro de Pesquisa do Hospital São Lucas, dois testes para a covid-19 são realizados. Somente aqueles que não tiveram contato com o vírus estão aptos a receber as doses. Além disso, o participante faz uma coleta de sangue, amostras respiratórias e, no caso das mulheres, um teste rápido de gravidez. O voluntário é orientado a ler um documento de 15 páginas chamado de "termo de consentimento", no qual estão estabelecidas as obrigações e os riscos que envolvem a pesquisa.
— Enquanto isso, os farmacêuticos fazem a randomização para saber se o participante receberá um placebo ou a vacina. Ninguém da equipe sabe qual das substâncias será aplicada. A enfermeira retira a dose e faz a aplicação no paciente — explica a coordenadora do estudo, Michelle Viegas.
Depois desse processo, é obrigatória a permanência por uma hora em uma sala de espera para acompanhamento de possíveis reações. O voluntário recebe um termômetro para aferição da temperatura e um caderno com informações, orientações e questionamentos que devem ser respondidos diariamente. Os pesquisadores também fazem contatos telefônicos para verificar a situação de saúde de cada um.
— Qualquer evento adverso, desde um simples cansaço até uma dor no local da aplicação, deve ser comunicado para a equipe. É interessante para o estudo ter uma amostra biológica desse participante para conseguir caracterizar a bula do medicamento posteriormente, por exemplo — detalha a coordenadora.
Um dos profissionais que recebeu a primeira dose nesta sexta-feira (14) foi o médico intensivista do São Lucas João Wilney Franco Filho. Ele tomou a decisão de participar do estudo em razão de tudo o que tem observado nos últimos meses na linha de frente de combate à pandemia:
— Nossa carga de trabalho aumentou muito, uma rotina puxada e um estresse físico muito grande. A maneira como eu acredito que nós podemos diminuir essa curva é através da vacinação, na medida que ainda não temos nenhum tratamento que seja efetivo na contenção da doença.
Segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, a CoronaVac poderá estar disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no começo de 2021. Segundo Covas, estão previstas 120 milhões de doses que poderão ser utilizadas para vacinar 60 milhões de brasileiros. Caso ela seja aprovada nos testes em humanos, a Sinovac e o Butantan vão firmar acordo de transferência de tecnologia para produção em escala.