Às 11h12min deste sábado (8), o primeiro voluntário do Estado a participar do estudo da vacina chinesa contra o coronavírus recebeu a aplicação em Porto Alegre. Esta é a última fase da pesquisa que avalia a segurança e a eficácia do imunizante desenvolvido pela Sinovac.
A pesquisa, coordenada no país pelo Instituto Butantan, vai contar com a participação de 852 voluntários na Capital e mais centenas de participantes em outros 11 centros de pesquisas brasileiros, totalizando 9 mil pessoas. Na etapa de hoje, está prevista a aplicação de doses teste em 10 voluntários, todos profissionais da saúde que estão trabalhando no atendimento de pacientes da covid-19.
Ouça o depoimento do primeiro voluntário a receber a aplicação:
Os primeiros participantes receberam as doses no Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS), que foi o centro escolhido para coordenar a pesquisa no Estado.
O pioneiro foi o médico da UTI do HSL Luciano Marini, de 49 anos. Ele fala que decidiu se voluntariar em razão de tudo o que tem observado nos últimos meses na unidade onde trabalha: pacientes graves, requerendo muitos cuidados específicos, e toda a mudança na rotina necessária para não se infectar.
— Além de tudo isso, tem o fator emocional, das famílias que não podem ficar com seus familiares, não podem visitar os parentes com covid-19. A gente acaba, então, tendo que dar notícias exclusivamente por telefone. Tudo isso fez com que eu me inscrevesse como voluntário. Espero que com esses testes a gente tenha em breve uma vacina segura e eficaz para toda a população que está muito desanimada, muito desgastada com toda essa pandemia.
Mais voluntários terão doses aplicadas na próxima semana
Conhecendo os desafios impostos pela pandemia desde o começo da disseminação do vírus no Estado, a técnica em enfermagem Fabiana Silva de Souza, 36 anos, também quis se tornar uma participante da pesquisa. Na quinta-feira (6), a profissional que atua na emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre recebeu uma ligação avisando que ela havia sido selecionada. Ela foi a segunda pessoa a receber uma dose neste sábado.
—Quem sabe com a vacina a gente consiga uma maneira de combater o vírus e mostrar para a população que a gente tem que ter esperança. A vacina está aí para a gente tentar amenizar esse quadro da pandemia — avalia.
Ansioso, porém confiante, o chefe do serviço de Infectologia do HSL, Fabiano Ramos, que coordena o estudo no Rio Grande do Sul, diz que a expectativa com o estudo é muito grande.
— Estar participando desse momento histórico é muito importante. É um desafio enorme.
Após a vacinação destes 10 voluntários, a equipe fará uma pequena pausa nas aplicações para avaliar e revisar os protocolos e a logística do estudo e também sanar quaisquer dúvidas em relação ao processo. Conforme o coordenador da pesquisa no Estado, a expectativa é de iniciar a aplicação das demais doses a partir de quarta-feira (12). Toda a etapa da vacinação, com a administração de duas doses em cada voluntário, deve ser concluída em 60 dias. Uma parcela dos participantes vai receber, aleatoriamente, doses do imunizante, enquanto outra parte recebe placebo. Como é um estudo duplo-cego, nenhuma das partes envolvidas -voluntário ou aplicador - sabe qual o conteúdo está sendo administrado.
Depois de concluída a etapa da vacinação, os dados serão enviados para o Butantan, que vai reunir as informações provenientes de todos os centros e fazer a análise dos resultados.