Desde que os primeiros casos de covid-19 começaram a surgir no Brasil, o procedimento da entubação e a utilização de respiradores mecânicos – também chamados de ventiladores pulmonares – tornaram-se mais frequentes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do país. Procedimento agressivo, mas que salva muitas vidas, a entubação necessita de diversos requisitos para ser realizada e pode ter consequências ao paciente.
O aparelho
De modo geral, um respirador fornece ar rico em oxigênio diretamente aos pulmões dos pacientes que estão com insuficiência respiratória aguda. É composto por cilindros de gases comprimidos, por uma série de tubos de transporte e alguns filtros, que servem para purificar e umidificar o ar.
Os ventiladores mecânicos têm parâmetros como pressões, fluxos e porcentagem de oxigênio que são constantemente ajustados conforme as necessidades do paciente. O aparelho conta com um monitor que registra dados da respiração e demonstra curvas que auxiliam os médicos na análise.
Outra função do aparelho é receber o ar da expiração, que é filtrado para ficar livre de vírus e bactérias. Esse circuito fechado evita que o ar contaminado, como no caso dos pacientes com coronavírus, volte ao ambiente da UTI.
Quem opera os respiradores?
Os aparelhos, que estão na maioria das vezes nas UTIs, são operados exclusivamente por médicos ou fisioterapeutas capacitados.
Cada doença exige seus próprios parâmetros de configuração do ventilador mecânico, diz Mariana Jost, médica intensivista do Hospital São Lucas da PUCRS. A configuração a ser programada requer grande conhecimento das doenças. O coronavírus vem se mostrando um grande desafio.
Quando entubar um paciente?
Há sinais que levam à entubação, como o esforço do paciente para respirar ou, no tratamento de uma doença respiratória, caso se constate taquipneia (aceleração do ritmo de respirações) ou hipoxemia (queda do oxigênio no sangue).
Muita sonolência também pode ser um indicativo. A intensivista Mariana ressalta que a equipe médica não espera até as últimas consequências para realizar a entubação, pois a demora pode aumentar os riscos.
Quais as possíveis consequências?
Lesões pulmonares: as pressões e os volumes fornecidos pelo ventilador mecânico podem provocar lesões (o termo técnico é VILI);
Pneumotórax: é quando entra ar entre as camadas de tecido do pulmão – a pleura –, situação que aumenta a dificuldade de respirar do paciente e pode provocar uma parada respiratória;
Pneumonia: o fato de o paciente estar conectado ao ventilador mecânico já implica risco de pneumonia;
Enfraquecimento do diafragma: o músculo que auxilia na expansão pulmonar no momento da respiração deixa de trabalhar, já que a respiração é mecânica.
É fundamental contar com pessoal qualificado para a entubação e a operação do respirador. O médico intensivista é treinado para atender pacientes em estado grave.
Como vive um paciente entubado?
Pacientes entubados que estão em condição grave devem ficar sedados. Precisam ser alimentados por sonda, que vai do nariz ao estômago. Em alguns casos, a alimentação é por via venosa. A hidratação é realizada por soro, injetado diretamente nas veias.
A urina é eliminada por sonda, e a evacuação tem de ser vigiada pela equipe médica. Em alguns casos, é induzida por meio de medicação.
Quando encerrar a entubação?
Extubar (o termo usado para encerrar a entubação) ocorre após uma série de avaliações. O primeiro critério é se a causa que levou à entubação está tratada ou em plena recuperação. No caso do coronavírus, que pode provocar grave infecção pulmonar, esse quadro tem de estar regredindo.
Também ocorre quando o paciente volta a respirar sozinho, com pouca ou nenhuma ajuda do aparelho.