A lotação das unidades de tratamento intensivo (UTI) de Porto Alegre voltou a subir e bateu novo recorde. De acordo com monitoramento da prefeitura da Capital, havia 337 pacientes com coronavírus internadas em UTIs por volta das 12h45min deste domingo (9) – 13 pessoas a mais em relação ao sábado (8). A taxa geral de ocupação estava em 89,6%.
Nos últimos dias, houve relativa estabilidade nas internações por covid-19. Na terça-feira (4), o número de pacientes sob cuidados intensivos chegou a cair para 309. Dois dias depois, no entanto, as UTIs de Porto Alegre tinham 331 internados com coronavírus – o recorde até então.
Gerente de Risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o médico epidemiologista Ricardo Kuchenbecker alerta para o perigo que estabilizar as internações em um patamar elevado.
— Estabilizar no teto é muito perigoso. Em alguns períodos, pode haver atrasos e recusas (de atendimento) em função de estar no teto. O segundo aspecto é fazer com que o sistema trabalhe no limite. Estamos com uma doença respiratório em que pode haver um pico e o sistema fica contingenciando — afirma.
Kuchenbecker avalia que é difícil prever a tendência da ocupação das UTIs nas próximas semanas, mas afirma que a liberação de atividades comerciais em Porto Alegre pode aumentar o número de pacientes sob cuidados intensivos.
— É possível que isso aconteça. A liberação das atividades traz um movimento migratório de trabalhadores de vários municípios da Região Metropolitana. O transporte pode representar um risco do ponto de vista das aglomerações — explica. — O melhor cenário que poderia ocorrer é uma abertura gradual. As atividades não têm necessariamente um risco elevado. O risco está na proximidade de pessoas sem a utilização de máscaras, não adesão à higienização de mãos etc.
Velocidade de internações diminuiu, avalia secretário-adjunto de Saúde
O secretário-adjunto de Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, afirma que a prefeitura percebe uma diminuição na velocidade da ocupação das UTIs da Capital desde o início de julho. Apesar disso, ainda não é possível dizer que foi atingido o platô.
— Não dá para dizer que estamos em um platô porque não estacionou. Teve um período que ficou entre 300 e 315 (pacientes em UTIs), voltou a subir, mas é uma velocidade de crescimento lento. Está mais devagar, sem dúvida.
O secretário-adjunto prevê que o número de pacientes sob cuidados intensivos permaneça estável ou tenha leve aumento nas próximas duas semanas. Katz reconhece ainda que a liberação de atividades comerciais deve causar impacto sobre o sistema de saúde.
— A gente sabe que o aumento da mobilidade gera impacto na ocupação dos leitos. Isso não vai ser sentido rápido, demora 15 dias. A ideia é que se tenha um controle da mobilidade para compensar a saída das pessoas de casa. Agora, se a gente não tiver um comprometimento das pessoas para continuar seguindo as recomendações de higiene, uso de máscaras, e mantendo a ideia de que é preciso sair o mínimo de casa, temos o risco (maior) de ter um aumento — pondera.