Cerca de 70% dos pacientes graves de covid-19 que são internados em hospitais de Porto Alegre se recuperam da doença, e o percentual de altas varia pouco entre os hospitais públicos e privados da Capital. Os registros do Sistema de Vigilância Epidemiológica federal apontam que as instituições particulares têm uma taxa de alta 8,9% superior à dos estabelecimentos que atendem majoritariamente pelo SUS no município.
Microdados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), que monitora as internações por síndromes respiratórias graves e integra o Sistema de Vigilância Epidemiológica federal, apontam que os hospitais privados da Capital alcançaram uma taxa de recuperação de 73,4% dos pacientes com coronavírus, contra 67,4% das instituições vinculadas ao SUS. A média geral é de 69,3% — praticamente sete em cada 10.
É um resultado bem mais equilibrado do a média de todo o país. Um levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo no final de julho mostrou que, em nível nacional, o índice de recuperação da covid-19 até aquele período era 50% maior no setor privado de saúde. A análise da Folha identificou uma taxa de alta de 51% em unidades particulares e de apenas 34% na rede pública do Brasil inteiro.
Uma das hipóteses para o desempenho mais satisfatório e homogêneo da Capital é a qualidade de instituições de referência para covid-19 e uma série de outras patologias, como Clínicas e Conceição.
— A qualidade do serviço público em Porto Alegre é muito boa. Temos hospitais de referência com insumos, equipamentos adequados e profissionais selecionados por concurso público. Como também são estabelecimentos que oferecem residência médica, o corpo clínico procura se manter mais atualizado — avalia o infectologista e médico do Conceição André Luiz Machado da Silva.
Para a epidemiologista Jeruza Neyeloff, da Diretoria Médica do Hospital de Clínicas (HCPA), a disponibilidade de leitos de alta complexidade pode ter contribuído para um melhor resultado na recuperação dos internados por covid-19 em relação ao cenário nacional.
— Aqui no Rio Grande do Sul, de maneira especial na Capital, nós fizemos um esforço muito grande de abertura de leitos. Só no Clínicas, foram 105 leitos de UTI específicos para a pandemia. Talvez tenhamos tido um menor atraso em número de leitos, o que permitiu o atendimento dos pacientes — considera.
De acordo com Jeruza, o estado de saúde dos pacientes que ingressam em hospitais públicos é, muitas vezes, mais precário do que na rede privada. Segundo a médica, o acesso ao atendimento pelo SUS costuma levar mais tempo do que por planos de saúde.
— Metade dos nossos pacientes por coronavírus é de UTI. Somos um hospital de alta gravidade. Nosso paciente vem direto para internação, muitas vezes transferido de outras instituições. É o nosso papel na rede — pondera.
Ela afirma que, dos 570 pacientes confirmados e internados com covid-19 no Clínicas, 22,5% morreram.
— Se analisarmos só pacientes na enfermaria, a taxa de mortalidade cai para 7,5% — detalha.
Quando se observam apenas os dados do Sivep-Gripe de quem acabou em UTI, o índice médio de morte aumenta e chega a 57% para todos os hospitais. Separando-se os pacientes por tipo de instituição, o percentual fica em 58% no setor público e em 54% na rede particular.
Secretaria destaca qualidade da rede de saúde, mas mortes seguem em alta
O secretário-adjunto da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Natan Katz, acredita que o índice superior de recuperação de pacientes internados por coronavírus nos hospitais de Porto Alegre em relação ao cenário nacional se deve a fatores como capacidade de resposta da rede, excelência das instituições de saúde e aumento da testagem. Segundo Katz, a SMS passou a internar três vezes mais pessoas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) desde o início da pandemia.
— Procuramos não criar “covidários”, que fossem depósito de gente, sem estrutura para atendimentos de alta complexidade. Isso fez com que tenhamos uma capacidade melhor de resposta. Estamos conseguindo não deixar ninguém sem atendimento e, também, conseguir dar o atendimento o mais rápido possível — afirma.
Para o secretário-adjunto, o que faz o paciente ter mais chance de recuperação é oferecer atendimento no menor prazo possível.
— Em julho, que foi nosso pior mês, a média de espera por um leito de UTI foi de 13 horas. Em agosto, já baixamos para oito horas. Índices muito melhores do que em anos anteriores — observa.
Além disso, Katz destaca a qualidade dos hospitais da Capital, a excelência dos médicos e a equipe técnica, tanto na rede pública quanto na privada.
— Nunca optamos por fazer puxadinhos, hospitais improvisados. Nossa meta sempre foi hospitais com estrutura, com equipes treinadas — ressalta.
Outro ponto que Katz considera importante é o volume de testagem realizada pela SMS. Para ele, isso agiliza todo o processo de atendimento e atenção ao paciente.
— Estamos conseguindo testar mais pessoas e mais rápido, além de facilitar o acesso ao resultado do exame — observa.
Apesar do desempenho do sistema de saúde da Capital acima da média brasileira, as mortes decorrentes da pandemia seguem em leve alta na cidade. A média diária de óbitos cresceu 5% no período de 1º a 7 de agosto (os últimos dias não entram na contabilidade porque ainda podem sofrer alterações), em comparação com os sete dias anteriores.