Em reunião realizada na tarde desta sexta-feira (17), a prefeitura de Porto Alegre apresentou a dirigentes hospitalares a proposta de que sejam abertos mais leitos para pacientes graves de covid-19, mesmo em espaços fora de unidades de terapia intensiva (UTI). A avaliação majoritária é de que será difícil ampliar a rede dessa forma e no ritmo necessário para companhar a atual tendência de crescimento da pandemia — mas a Santa Casa prevê a entrega de mais vagas nos próximos dias. O tema deverá ser novamente discutido em futuros encontros.
— O pedido do prefeito foi exatamente para que os hospitais avaliassem e, muito em breve, nos sinalizassem pela abertura de outros leitos, mesmo que não em áreas específicas de UTI — afirma o secretário-adjunto da Saúde, Natan Katz.
A ideia, revelada em reportagem publicada na véspera da reunião em GaúchaZH, foi recebida com receio por boa parte dos gestores dos principais hospitais da cidade.
— Vários se mostraram muito receosos com essa ampliação, por todos os gargalos de equipe, medicamentos, segurança e atendimento de doenças que não são a covid-19 — revela Katz.
A presidente do Hospital de Clínicas, Nadine Clausell, foi uma das administradoras que declararam ao prefeito Nelson Marchezan e a representantes da Secretaria Municipal da Saúde não ver margem para ampliações no modelo pretendido.
— Tecnicamente, os hospitais não têm mais como expandir leitos com segurança. As previsões (de crescimento nas internações em UTI) vêm se materializando, e nós estamos caminhando para o colapso no sistema de saúde de Porto Alegre — afirma Nadine.
A presidente do Clínicas, que reúne o maior número de doentes graves de covid na Capital —havia 75 pacientes com diagnóstico confirmado e 84 incluindo casos suspeitos na tarde de sexta —, argumentou ao prefeito que é preciso “desacelerar de maneira brusca” o ritmo de contágio por coronavírus.
— Isso se chama lockdown, e é a medida necessária para inverter essa equação (de crescimento de casos e disponibildiade de vagas). Não é questão de espaço físico, não temos pessoal, medicação, ventiladores suficientes. Se a equação não mudar, vamos rumar para o caos — resume a gestora.
A Santa Casa, em sentido oposto a outros estabelecimentos já esgotados, ainda tem previsão de novas aberturas de vaga. Segundo o diretor-geral, Julio Flavio Dornelles de Matos, deverão ser entregues mais oito leitos neste sábado, e 17 até a terça-feira. Até o final de julho a intenção é oferecer outras 15, totalizando 88. A cidade conta no momento com 748 leitos operacionais, cerca de 220 a mais do que tinha no início da pandemia.
Matos vê com cautela a possibilidade de um lockdown:
— Nós aqui da Santa Casa achamos que ainda temos medidas a fazer. Nesse momento, o isolamento social é determinante para que não se inicie um lockdown, que seria muito ruim para todos. A gente acha que ainda há caminhos a serem percorridos para que se tome esse tipo de atitude.
Matos defende que os hospitais sejam os protagonistas de uma estratégia de sensibilização. Para isso, sugere que as instituições adotem postura conjunta, mostrando de forma mais direta o risco de esgotamento dos recursos hospitalares, caso a sociedade não assuma postura preventiva.
Durante o encontro, o prefeito Nelson Marchezan declarou aos dirigentes de hospitais:
— Agradeço o que vocês têm feito em benefício de cada cidadão, mas aproveito esta oportunidade para pedir a ajuda de trazerem a sociedade para a racionalidade, para dividir responsabilidade e nivelar as estratégias possíveis para enfrentarmos a situação. Não queremos avançar para um lockdown, mas precisamos da colaboração da sociedade, dos políticos e dos empresários, e os hospitais podem nos ajudar nesta conscientização.
Até as 16h, havia 260 pessoas internadas com teste positivo para o coronavírus nas UTIs da Capital, 24% a mais do que havia uma semana antes, e a taxa geral de ocupação estava em 88,8%. Somando-se os leitos com casos suspeitos, o número chegava a 301. Previsões indicam que, se for mantido o ritmo atual, as 383 vagas previstas para atender a pandemia podem se esgotar até o final do mês.
Nelson Marchezan se reuniria com representantes do setor empresarial ainda durante a tarde, e depois faria uma manifestação transmitida via internet. Gestores da saúde e da prefeitura devem realizar um novo encontro para voltar a avaliar os rumos do combate à pandemia na Capital na próxima semana.