O crescimento de 31% no número de pacientes internados com covid-19 em unidades de terapia intensiva (UTI) de Porto Alegre ao longo da última semana voltou a deixar a estrutura de atendimento hospitalar sob risco iminente de sobrecarga e será tema de uma reunião prevista para ocorrer nesta sexta-feira (17) entre gestores do município e de hospitais da Capital em busca de uma nova estratégia. A confirmação ainda dependia de detalhes de agenda.
Até as 15h de quinta (16), havia um número recorde de 251 pessoas hospitalizadas em estado grave com coronavírus, contra 191 uma semana antes. A quantidade de pacientes já se aproximava do patamar intermediário de 255 leitos previstos para enfrentar o novo vírus no plano de contingência municipal.
As projeções mais atualizadas indicavam que, mantido o ritmo atual de hospitalizações, esse nível poderia ser alcançado nas horas seguintes, e o teto máximo de 383 vagas para covid estabelecido em um terceiro e último nível de enfrentamento seria ultrapassado por volta do dia 30 de julho (veja gráfico abaixo).
A prefeitura decidiu antecipar uma medida que estava originalmente prevista para a fase mais extrema do plano e vai começar a discutir a utilização de espaços localizados fora de UTIs para tratamento intensivo, como salas de emergência e de pós-operatório, para reduzir o risco de colapso do sistema de alta complexidade.
Esse será um dos assuntos tratados no encontro previsto para sexta. Também serão melhor avaliados gargalos para implementar essas novas ampliações como escassez de profissionais de saúde, de medicamentos como sedativos e de equipamentos como respiradores.
— A ideia do encontro é avaliar essas questões e encaminhar o planejamento para uma nova fase (de combate à pandemia). Estamos muito preocupados com a não desaceleração das internações — afirma o secretário-adjunto da Saúde da Capital, Natan Katz.
A estratégia desenhada pela prefeitura para enfrentar a pandemia previu três etapas diferenciadas conforme a demanda de doentes de covid-19 por leitos de UTI. A primeira, que previa 174 vagas e a utilização dos hospitais de Clínicas e Conceição como referência, foi ultrapassada no dia 3 de julho. A segunda, que conta com ampliação de vagas em outras instituições, como a Santa Casa, está em vias de ser superada. A terceira e última prevê justamente o remanejo de outros tipos de leitos para atender casos graves da pandemia, o que já começará a ser encaminhado.
A abertura de 10 novos leitos de UTI para coronavírus no Hospital da Restinga, que também estava prevista para o grau mais avançado de preparação, foi igualmente antecipada para a segunda-feira passada (13). Em comparação a março, na chegada da pandemia à Capital, os 746 leitos operacionais nesta quinta representam um acréscimo de 221 vagas para fazer frente ao novo vírus no município.
Em um primeiro momento, a partir de agora, a conversão de outras alas em espaço para terapia intensiva envolveria Clínicas, Conceição e, talvez, Santa Casa e São Lucas. Em último caso, em um cenário avaliado como “extremo” pela SMS, até o Hospital de Pronto Socorro (HPS) poderia passar a receber pessoas com coronavírus. Essa opção não é considerada ideal pelo fato de a instituição ser referência para casos de trauma.
Na manhã desta quinta, os 44 leitos covid do Conceição estavam lotados. A dificuldade para abrir novas vagas, segundo o diretor-técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Francisco Zancan Paz, será conseguir pessoal e estrutura em um cenário já muito pressionado pelo novo vírus. Existe intenção de fazer isso no GHC, mas os gargalos impedem de prever quando e em que quantidade.
— Aguardamos reforço de medicamentos e respiradores do Ministério da Saúde, e estamos tentando equacionar o problema da falta de pessoal — afirma Paz.
De maneira geral, todas as UTIs para adulto da Capital registravam 87% de ocupação na tarde de quinta.