No mesmo final de semana em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou o encerramento dos estudos com hidroxicloroquina no tratamento contra o coronavírus, por entender que não houve comprovação de redução da mortalidade em pacientes, Jair Bolsonaro defendeu mais uma vez o uso do medicamento. Durante visita a Florianópolis (SC) no sábado (3), o presidente disse que a hidroxicloroquina “é o único tratamento que temos no momento”.
— Estamos tendo notícias de que, cada vez mais, não só no Brasil, mas no mundo, o tratamento precoce via hidroxicloroquina tem surtido efeito. Então, apelamos para aqueles que ainda resistem, no tocante a esse protocolo, como é um protocolo, é algo oficial, que realmente entendam que o único tratamento que temos no momento é a hidroxicloroquina, enquanto não chega a vacina — disse em entrevista ao Grupo ND na viagem a Santa Catarina, para sobrevoar regiões atingidas pelo ciclone-bomba.
Neste sábado (4), a OMS afirmou que abandonou também os estudos com os antivirais lopinavir e ritonavir para tratamento de covid-19. Como no caso da hidroxicloroquina, os experimentos mostraram que não há eficácia.
Breno Riegel, infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, ressalta que não existe, até agora, um antiviral comprovado para tratar o vírus. Segundo o médico, o que há são estratégias para diminuir respostas inflamatórias, e entre elas está o uso da hidroxicloroquina:
— Não é um antiviral. Na fase inicial, ela (hidroxicloroquina) diminui a resposta inflamatória contra o vírus, se for usada até o quinto dia — afirma Riegel.
Para a infectologista Marineide Goncalves de Melo, também do Conceição, enquanto não há comprovação de uma droga eficaz contra o coronavírus, "precisamos testar com as evidências que estão disponíveis".
— Foi visto que, in vitro, ela (hidroxicloroquina) combate o coronavírus. In vivo não se sabe a real eficácia. As evidências atuais são para tratar o paciente o mais precoce possível — acrescenta a médica, afirmando que a azitromicina também tem se mostrado eficaz em alguns casos.
Paulo Petry, mestre e doutor em Epidemiologia pela UFRGS, comenta que ainda não há estudos que justifiquem o uso de hidroxicloroquina para o coronavírus:
— É um medicamento bom, testado e seguro para outras doença. Para a covid-19, não há estudo ainda que possa dizer que pode ser usado ou não em larga escala. Não é medicamento para se usar em casa. O médico vai avaliar a condição de cada paciente.
Outras alternativas têm se mostrado promissoras no tratamento da doença. Um exemplo é o uso de plasma convalescente. Em Caxias do Sul, na Serra, o Hemocentro Regional (Hemocs) e o Hospital Virvi Ramos foram pioneiros no Estado ao testar a metodologia, que consiste em coletar o chamado plasma convalescente (de pessoas que já se recuperaram da doença) e injetar em pacientes com coronavírus ativo. A intenção é de que os anticorpos presentes no material doado ajudem o doente a se recuperar mais rápido.
Petry comenta resultados promissores da dexametasona e do remdesivir, ressaltando que cada caso é um caso e que esses medicamentos são de uso profissional e em ambiente hospitalar:
— Preventivo mesmo é a vacina. Na história da humanidade, a gente nunca esteve tão avançado quanto estamos. Estou esperançoso, estamos torcendo para dar certo. Elas são muito promissoras.