A recomendação segue a mesma: se puder, fique em casa. Por outro lado, a orientação muda para indivíduos com sinais de quadros graves, como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). É justamente para sensibilizar a população da importância de buscar atendimento médico, independentemente da pandemia, que foi lançada, nesta quinta-feira (23), a campanha Saúde Não Tem Hora, encabeçada por grandes sociedades médicas brasileiras.
A iniciativa surge em um cenário preocupante, no qual pacientes com doenças crônicas ou sintomas de problemas sérios de saúde deixam de procurar as emergências com medo da infecção por coronavírus.
— Fala-se das consequências pós-pandemia, das preocupações econômicas. Mas a campanha de hoje é importante porque ela está marcando essa questão no âmbito da saúde depois da pandemia. Estamos vendo estatísticas de cartórios que mostram aumento de mortes por doenças cardiovasculares. Em contrapartida, os pacientes têm se apresentado aos serviços de urgência em uma fase mais grave — alertou, em coletiva de imprensa online, o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Domingos Malerbi.
Serviços de emergência de países como Itália, Estados Unidos e Espanha experienciaram, recentemente, uma queda nos casos de infarto, disse o cardiologista Álvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. No entanto, isso não reflete a realidade da doença.
— Na Califórnia, fizeram uma comparação entre o mesmo período de 2019 e de 2020 e ficou claro que casos de infarto foram menos hospitalizados. Houve mudança de comportamento que diminuísse os fatores de risco? Claro que não. Há menos pessoas infartando chegando aos hospitais e mais mortes atribuídas a doença cardiovascular ocorrendo em casa — falou Avezum.
No Brasil, a percepção é a mesma: os pacientes deixaram de procurar os hospitais temendo uma contaminação. Essa ideia é confirmada pelos dados do Portal da Transparência, atualizado pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil) em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Conforme o levantamento, de 16 de março até o fim de junho deste ano, as mortes em casa por doenças cardiovasculares, incluindo AVC e infarto, aumentaram mais de 31% na comparação com o mesmo período de 2019.
Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC, reforçou a orientação de procurar uma unidade de saúde ou acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) diante de qualquer indicativo de AVC (saiba mais abaixo).
— Qualquer sinal, até que provem o contrário, pode ser um AVC e precisa de atendimento em uma instituição especializada. AVC tem tratamento que evita as sequelas, mas depende de um tratamento rápido. A cada minuto, são cerca de 2 milhões de neurônios perdidos. A pandemia vai passar, mas as sequelas de um AVC ficam para a vida toda — destacou, acrescentando que dados do Brasil e do mundo apontam uma redução de aproximadamente 40% nos atendimentos de casos de AVCs em instituições de saúde durante a pandemia.
Atenção aos tratamentos
Seguir à risca as recomendações para permanecer em casa é uma medida extremamente eficiente para evitar a propagação do coronavírus. Em contrapartida, é um prato cheio para reduzir os exercícios físicos e descuidar da dieta, pontos cruciais no controle adequado do diabetes.
É por isso que os especialistas estimulam que os pacientes procurem com frequência seus médicos e que não abandonem os tratamentos prescritos. Além disso, recomendou a endocrinologista Denise Franco, da SBD, é preciso aumentar o monitoramento da glicemia.
— Se o paciente fazia uma vez só, ele deve fazer mais. E monitorar não só a glicose, mas a pressão e o colesterol também. A gente sabe que está difícil manter a dieta equilibrada e fazer atividade física, mas não é por que você está isolado que as doenças não acontecem — observou.
A especialista esclareceu que ser diabético não aumenta o risco de ser contaminado pelo coronavírus, porém, aumenta o risco de complicações no caso de uma contaminação.
— Quem tem diabetes pode evoluir pior na covid-19. E há agravamento quanto mais descompensada estiver a glicemia — explicou.
A campanha
A campanha Saúde Não Tem Hora, lançada nesta quinta, é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Diabetes, com apoio da Associação Brasileira de Medicina de Emergência, Rede Brasil AVC, Associação de Diabetes Juvenil e Boehringer Ingelheim. O objetivo é alertar a população para a importância de buscar atendimento médico ou uma emergência hospitalar ao apresentar sintomas condizentes com infarto, AVC ou outras condições cardiovasculares.
Abra o olho
Dores no peito, sudorese, palidez, náuseas e vômitos são sinais sugestivos de infarto. Portanto, a orientação é buscar atendimento de emergência o quanto antes ao apresentar tais sintomas.
— A hora de ouro é a primeira — sublinhou Avezum.
Já o AVC pode ser percebido através de indicativos como, por exemplo, a perda súbita de força ou sensibilidade de um lado do corpo, dificuldade para falar, tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação repentina.