O município de Xangri-Lá, no Litoral Norte, preferiu manter as restrições impostas pela bandeira vermelha do plano de distanciamento controlado apesar da autorização do governo do Estado para que a cidade passasse para a bandeira laranja.
A decisão - que fecha o comércio não essencial e causa série de limitações a outras atividades - foi tomada em função de uma particularidade: a proximidade com Capão da Canoa, município mais populoso das praias.
— Se Capão da Canoa fecha o comércio, o pessoal vai vir para Xangri-Lá. Somos divididos por uma mesma avenida. Então vamos estar recebendo o município do lado. Precisamos fazer o correto, que é fechar aqui também - salienta o secretário da Saúde, Luis Antônio Ferreira.
Conforme o secretário, também havia uma internação de um morador do município que não estava contabilizada pelo governo gaúcho ao autorizar o relaxamento de bandeira da cidade. Até 17h desta quarta-feira (24), Xangri-Lá tinha nove casos confirmados.
O primeiro óbito em Xangri-Lá foi confirmado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) hoje. A vítima era uma mulher de 68 anos que recebia tratamento no Hospital Conceição. De acordo com o secretário, a mulher foi internada em função de outra doença mas contraiu o vírus na instituição.
Na manhã desta quarta, a reportagem de GaúchaZH flagrou um carro de som contratado pela prefeitura para orientar moradores sobre a necessidade de distanciamento.
— Atenção, atenção, comunidade de Xangri-Lá. O município encontra-se na bandeira vermelha no distanciamento social do governo do Estado. Verifique no site se o estabelecimento pode permanecer aberto e os critérios do funcionamento. Contamos com a sua colaboração para que a região não seja reincidente. Evite a circulação do vírus. Mantenha o distanciamento social — relatava o locutor.
O comércio do município respeitou a determinação. A reportagem circulou pela Avenida Paraguassu — que limita as duas cidades — e constatou que só mercados, ferragens e lojas de materiais de construção e de manutenção automotiva estavam abertas. Restaurantes funcionaram somente entregando marmitas.
Projetista de uma loja de móveis planejados, Patrícia Riguer trabalhava sozinha no estabelecimento, que estava com as portas fechadas nesta tarde. Ela se diz preocupada com a situação da doença na cidade em função da bandeira vermelha, mas lamenta a redução nas vendas.
— Aqui na loja o foco não é o verão. Acaba sendo durante o ano para que no final do ano, no verão, as pessoas possam deixar tudo pronto e ter conforto em suas casas. Mas com o comércio fechado a gente quase não faz mais vendas — queixa-se.
Prefeitos reclamam de pouco apoio
O presidente da Associação dos Municípios do Litoral Norte (AMLINORTE), Pierre Emerim, reclama do que considera pouco investimento do Estado na ampliação de oferta de leitos de UTI para covid-19 na região. Ele critica o cálculo usado pelo governo, que, segundo ele, considera a população da região como 397 mil habitantes.
— Entendemos que o litoral está sendo desprestigiado. Todos os indicativos nos provam de maneira prudente, desde consumo de energia, aterro sanitário, vacinação, que nós temos, no mínimo, 600 mil pessoas. Qualquer um pode andar no litoral, entrar num prédio, que vai ver: as pessoas estão aqui — protesta o presidente, que é prefeito de Imbé.
O prefeito também comenta que os leitos de retaguarda da região seriam na Grande Porto Alegre. Só que a outra região também vê crescer as hospitalizações, então não haveria oferta.
— As pessoas estão cumprindo a quarentena no litoral. O movimento é parecido com dezembro. Esse dado, essa informação, o Estado não pode mais continuar negando. Essa negação do Estado está nos trazendo prejuízo. Em comparação com as demais regiões, o litoral é disparado a região que recebeu menos investimento no Estado em função do coronavírus — avança o prefeito.
Ainda segundo o presidente da associação de municípios, os prefeitos pretendem entrar com representação no Ministério Público contra a decisão do Estado de autorizar os municípios que não tiveram internações ou óbitos dentro de 14 dias a seguir em bandeira laranja mesmo sendo parte de uma região com a bandeira vermelha.
Procurada por GaúchaZH, a secretaria da Saúde informou que foi ampliado em 80% a capacidade de leitos de UTI no Litoral Norte em função da a pandemia. Antes eram 25 leitos, sendo que foram abertos 21 novos, totalizando 46 leitos de UTI SUS adulto. Nas demais regiões, em média, a ampliação foi de 70%.
A pasta também detalhou que a lotação dos leitos na região é de 80,4%, sendo um terço infectados pelo coronavírus. Caso não tivesse ocorrido a ampliação de unidades, o sistema estaria sobrecarregado.