Três entrevistadores do Ibope que aplicaram questionários sobre a epidemia de covid-19 e testaram entrevistados para a doença na cidade de Irecê, a 480 km de Salvador, na Bahia, foram infectados pelo coronavírus. Eles fazem parte de um estudo que pretende testar uma amostra de 33.250 pessoas em 133 cidades, em todos os Estados, para estimar quantos brasileiros já foram contaminados.
Realizada pelo Ibope Inteligência e sob coordenação do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a pesquisa tem como objetivo colher dados para auxiliar no planejamento do combate à doença.
As equipes têm enfrentado percalços em algumas poucas localidades do país: foram detidas pela polícia, impedidas de trabalhar por governos municipais ou agredidas nas ruas.
A prefeitura de Irecê informou que não foi avisada previamente da pesquisa e que só a autorizaria desde que os 14 entrevistadores do Ibope enviados de São Paulo para a cidade fizessem testes para coronavírus.
Os testes foram aplicados pela prefeitura na última sexta-feira (15) e identificaram que três dos entrevistadores estavam com o vírus.
Coordenadora da pesquisa, a professora Mariângela Freitas da Silveira, da Universidade Federal de Pelotas, afirma que os cerca de 2 mil entrevistadores do Ibope estão sendo testados para covid-19 antes de ir a campo.
Os 14 que foram para Irecê passaram por testes rápidos no dia 7 de maio, uma semana antes de viajarem para a cidade, e tiveram resultado negativo.
— É claro que pode acontecer de, em meio a um número grande de entrevistadores, alguns serem contaminados. Mas a gente não sabe explicar como isso aconteceu, já que todos foram testados — afirma a professora.
Ela explica que os testes rápidos não são 100% confiáveis e podem registrar falsos negativos. Esse tipo de teste detecta a presença de anticorpos contra a covid-19 no sangue e, por isso, não é totalmente efetivo quando a doença está nos primeiros dias.
Ainda de acordo com a professora, esses foram os primeiros casos de coronavírus identificados entre os entrevistadores que participam da pesquisa.
Antes da realização dos testes pela prefeitura de Irecê, os entrevistadores enfrentaram outros percalços na cidade. Em nota, a prefeitura informou que recebeu uma denúncia de moradores sobre pessoas que estariam realizando a testagem para a covid-19 com coleta sanguínea em bairros da cidade.
Com o apoio da Polícia Militar, os entrevistadores foram encaminhados para a delegacia da cidade para prestar esclarecimentos. Após a confirmação de que se tratava de uma pesquisa do Ibope, a prefeitura decidiu interromper a aplicação dos testes por ausência da comunicação oficial prévia e apreendeu os testes.
Os coordenadores da pesquisa, contudo, afirmam que todas as autoridades municipais e estaduais foram comunicadas.
Depois de negociações entre a coordenação da pesquisa e a prefeitura, ficou decidido que a pesquisa seria autorizada desde que todos os entrevistadores fossem testados para Covid-19 e que a mesma fosse acompanhada por um profissional de saúde na equipe.
Após a descoberta dos profissionais infectados, a prefeitura decidiu não autorizar a sua realização.
O Ibope informou que retirou todos os 14 entrevistadores da cidade e excluiu Irecê da pesquisa. Os três que estavam contaminados foram orientados a cumprir quarentena.
De acordo com a professora Mariângela da Silveira, os entrevistadores que foram a campo utilizaram equipamentos de proteção individual como máscaras, luvas, jalecos e óculos de proteção. Nenhum deles tinha sintomas da doença.
Em nota, a prefeitura confirmou que os entrevistadores usaram os equipamentos de proteção durante as entrevistas e coleta do sangue. Mesmo assim, como medida preventiva, vai monitorar as pessoas que participaram da pesquisa.
A prefeitura recebeu a relação dos moradores que tiveram contato com os entrevistadores. Todas elas serão testadas novamente para a covid-19 nos próximos dias.