O reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Rodrigues Curi Hallal, afirmou nesta segunda-feira (18), em entrevista ao programa Timeline, que a instituição vai voltar aos locais em que alguns pesquisadores foram detidos pela polícia, agredidos por cidadãos e impedidos de trabalhar. Os profissionais fazem parte do projeto inédito que coleta dados sobre a doença no território nacional a fim de colaborar com os governos na tomada de decisões.
— A gente decidiu, como pesquisadores, que em vez de nos escondermos, em vez de aceitarmos essas truculências, nós dobraremos a aposta. Nós ampliamos o período de coleta de dados até amanhã, terça-feira, para dar uma segunda chance para esses locais que tiveram essa postura autoritária, vários deles estão agora revertendo a postura. Eu diria que agora nós não temos 10 cidades, talvez ao redor de 10 cidades, em que a truculência impera — contou.
O reitor ressaltou que as cidades em que ocorreram problemas na coleta de informações sobre a proliferação da covid-19 foram minoria.
— Em quase 100 das 133 cidades do Brasil não teve nada disso, o trabalho está transcorrendo naturalmente. Em outras 15 a 20, o trabalho estava com alguma burocracia pendente, mas também está sendo liberado. Esses problemas (de pesquisadores hostilizados) foram concentrados entre 10 e 20 cidades — disse.
Questionado se algum entrevistados decidiu, após os incidentes, parar de trabalhar, Hallal afirmou que sim, mas que houve um processo de reversão dessa postura.
— Isso começou na quinta-feira, sexta-feira foi o pior dia, no sábado tivemos várias desistências. Mas aí começou um processo interessante. Vários entrevistadores, depois de reportagem no Fantástico, pediram para voltar a trabalhar — afirmou.
Ouça a entrevista completa com o reitor Pedro Hallal
Um dos principais casos de hostilização, de acordo com o reitor, foi em Santarém, no Pará, onde a casa de uma das entrevistadoras, que funcionava como "Quartel-General" da equipe no município, foi invadida por forças de segurança. A pesquisadora foi tratada como criminosa, conforme Hallal, e os testes realizados no município foram perdidos, uma vez que, ao serem apreendidos, não houve o devido cuidado para manuseio e armazenamento. Ainda assim, ele ressaltou que na grande maioria das cidades os pesquisadores foram bem recebidos.
— Na grande maioria das cidades, nossos pesquisadores estão sendo bem recebidos. Ontem nós recebemos um áudio de uma entrevistadora chorando, relatando que quando ela saiu de uma casa as pessoas da rua se juntaram e bateram palmas para ela. É como todo o pesquisador deveria ser tratado: com palmas, não com violência — disse.
De acordo com Hallal, o trauma poderia ter sido evitado por meio do contato da secretaria estadual de saúde com a secretaria municipal de saúde. Além disso, avaliou que o conflito de ego também teve participação para que esses incidentes acontecessem.
— Um pouco de desinformação, um pouco de conflito de ego em algumas cidades. Os prefeitos, já que a comunicação do ministério chegou muito em cima da hora, tentaram fazer um papel de xerife na hora e dizer "ah aqui não entra ninguém sem a minha autorização". Um pouco também do momento, é claro que as pessoas estão receosas, estão com medo — disse. — Alguns dos problemas que a gente tá enfrentando teriam sido evitados se o Ministério da Saúde tivesse feito contato com os municípios em um prazo mais dilatado — acrescentou.