O coronavírus já chegou a mais da metade dos municípios no Rio Grande do Sul. Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) disponíveis até as 19h desta segunda-feira (25) indicavam que 258 prefeituras registraram pelo menos um paciente de covid-19 desde o começo da pandemia — o equivalente a 51,9% das cidades gaúchas.
Nas últimas duas semanas, 64 novas localidades notificaram ocorrências do vírus pela primeira vez. O crescimento médio é de 4,6 novos lugares por dia, um pouco menos do que a taxa de 5,2 verificada por GaúchaZH entre os dias 28 de abril e 12 de maio.
Chama a atenção a situação de Progresso, no Vale do Taquari, que não tinha registro anterior e, ao longo do último período, passou a contabilizar 21 testes positivos. Levando-se em conta apenas os municípios com pelo menos 20 ocorrências, a fim de reduzir distorções estatísticas (pequenos acréscimos em locais com poucos casos podem resultar em grandes variações percentuais), as regiões da Produção e da Serra se destacam entre as cidades que tiveram maior aumento proporcional na quantidade de pacientes entre os dias 11 e 25 de maio.
Bom Jesus, nos Campos de Cima da Serra, teve o maior salto percentual nesse intervalo — 2.300% a mais, mas o número acumulado de 24 doentes não chega a figurar entre os primeiros no ranking estadual. Entre todos os 10 lugares com maior acréscimo no período (veja informações completas no gráfico), há três da Produção (Frederico Westphalen, Nonoai e Palmeira das Missões) e dois da Serra (Garibaldi e Farroupilha). Apenas um é da Região Metropolitana: Guaíba, com avanço de 440% e 27 notificações.
Os dados contabilizados no gráfico a seguir levam em consideração o que foi divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde até as 14h do dia 25 de maio.
— Continuamos com um crescimento moderado. A questão é que pode haver um aumento a partir do relaxamento das medidas de isolamento, já que todo o Estado está com bandeira amarela ou laranja (que indicam menor risco e permitem mais atividades) e, com o tempo, as pessoas vão naturalmente tomando menos cuidados. Precisaremos ver o impacto ao longo de duas a três semanas – analisa o professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki.
É preciso considerar que, nas duas últimas semanas, o governo estadual revisou casos que não haviam sido corretamente notificados pelas prefeituras e, por esse motivo, ainda não haviam sido incluídos no sistema estadual e federal de monitoramento da pandemia. Em apenas duas datas, nos dias 15 e 20 de maio, foram acrescentados cerca de 1,6 mil registros à contabilidade oficial. Por isso, parte do crescimento verificado neste período pode fazer referência a datas anteriores. Os números correspondem ao que era informado no site da SES em cada dia de comparação.
Há outras limitações nos dados disponíveis para análise, como divergências entre números divulgados por prefeituras e pelo Estado. A situação de Porto Alegre é a mais complicada: como a Secretaria Municipal da Saúde está utilizando uma ferramenta diferente da adotada pelos governos federal e estadual, desde o começo da semana passada até esta segunda-feira os números de novos casos não estavam sendo incluídos na contabilidade do Piratini. O boletim epidemiológico municipal apontava 983 casos até domingo (24), contra 602 no painel da SES.
A secretaria municipal afirmou, por meio de nota, que está trabalhando para integrar o seu sistema disponibilizado pelo Ministério da Saúde e usado pelo Estado (o e-SUS Notifica), mas a pasta estadual informa que aguarda a prefeitura cumprir a norma que prevê o uso do e-SUS Notifica.
— Os dados não estão sendo recebidos, seja pela secretaria estadual, seja pelo Ministério da Saúde. Quando recebermos, serão contabilizados — afirmou o diretor da Auditoria do SUS da SES, Bruno Naundorf, em entrevista concedida sexta-feira (22).
Não foram informados prazos para regularizar a situação.