Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que apenas 14,29% dos profissionais da saúde no Brasil se sentem preparados para lidar com a crise de covid-19. E o levantamento indica que o medo é um sentimento comum para os que atuam na linha de frente, independentemente da região, do nível de atenção ou da área de atuação.
A pesquisa "A pandemia de covid-19 e os profissionais de saúde pública no Brasil", divulgada nesta terça-feira (26), foi feita com 1.456 profissionais da saúde pública de todas as regiões do país, entre 15 de abril e 1º de maio. As entrevistas foram conduzidas virtualmente. Dos 1.456 respondentes, 79% são mulheres, 19,6% homens e menos de 1% preferiu não declarar. Quanto ao tempo de atuação, 64,84% dos profissionais exercem seu trabalho na respectiva área há mais de 10 anos.
Entre os entrevistados, os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias são aqueles que se sentem mais despreparados (apenas 7,61% se dizem prontos para enfrentar a crise). O índice é também bastante preocupante na enfermagem, setor no qual apenas 20,09% dizem se sentir preparados.
Segundo os dados coletados, 91,25% dos agentes comunitários e de combate a endemias sentem medo da doença, enquanto o temor atinge 84,31% dos profissionais da enfermagem, 77,68% dos médicos e 88,24% de outros profissionais das equipes ampliadas da saúde. Mais de 55% dos profissionais de saúde conhecem alguém que se contaminou ou foi diagnosticado com suspeita de covid-19.
— A pesquisa mostra que os profissionais de quem mais dependemos para enfrentar a pandemia estão em situação de extrema vulnerabilidade. Isso coloca esses profissionais em uma situação de muita fragilidade, na medida em que precisam estar na linha de frente, mas sentem medo e podem tanto adoecer como se tornarem vetores de contágio — avalia Gabriela Lotta, professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, que conduziu a pesquisa.
Falta de EPIs e de treinamento
Reforçando que a maior parte dos profissionais não se sente preparada para lidar com a crise — um total de 64,97% dos profissionais da saúde entrevistados —, a pesquisadora aponta ainda problemas como escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs), falta de informações e ausência de suporte governamental para os profissionais.
O estudo também analisou em que medida a crise alterou os processos de trabalho e as interações entre profissionais e usuários. Três em cada quatro entrevistados responderam que a crise alterou suas rotinas, com mudanças relativas ao fluxo de trabalho, procedimentos, mudança de prioridades, introdução de novas tecnologias, entre outras alterações.
— Essas questões são bastante importantes para a saúde, especialmente para a atenção primária, onde o contato cotidiano e o toque físico são centrais para construção de vínculos com as famílias atendidas — analisa Lotta.
Em relação às interações, 88% dos profissionais afirmam que a crise alterou a maneira como se relacionam com os pacientes, sendo que o maior impacto citado diz respeito ao distanciamento físico.
* Com informações da Agência Bori