A curva de novos casos de coronavírus no Rio Grande do Sul se acentuou nos últimos dois dias — foram 13 diagnósticos na segunda (30) e 24 na terça-feira (31). Para efeito de comparação, os 37 casos em dois dias ficam próximos aos 39 registrados ao longo dos cinco dias anteriores (entre quarta-feira e domingo).
Na avaliação da Secretaria Estadual da Saúde, a elevação é normal e já estava prevista. O argumento é de que cada novo infectado transmite o vírus para mais pessoas, e essas pessoas transmitem para outras — criando-se uma espécie de árvore que vai ganhando ramificações.
Especialistas advertem que, para barrar o crescimento exponencial, é necessário o isolamento — com menos circulação nas ruas e menos aglomerações, reduz-se a disseminação do coronavírus.
Presidente da Sociadade Riograndense de Infectologia, Lessandra Michelin chama atenção para um relaxamento das pessoas que, após um período de reclusão, voltaram a circular em ambientes públicos, aumentando as chances de contágio:
— As pessoas se cansam de ficar em casa e já querem voltar para a rua e estabelecimentos comerciais. Estão preocupadas com emprego e se encontrando em parques e casa de amigos.
Ela ressalta, porém, que não é o momento de retomar a rotina.
— A gente espera que as pessoas tenham consciência de que o isolamento pode funcionar e que sigam fazendo a sua parte ficando em casa. Ainda não podemos voltar a viver como vivíamos antes. Temos de ter responsabilidade social — afirma a médica.
Alexandre Zavascki, professor de Infectologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, chama atenção para outro dado preocupante. Ele diz que o critério de testagem só para casos graves — devido à falta de teste para mais pessoas — faz com que haja uma maior subnotificação. Ou seja, há um contigente de pessoas infectadas, que a estatística não considera, mas que transmitem o vírus.
— Ainda é cedo para dizer que estamos indo para uma fase em que o aumento diário vá se repetir exponencialmente. Porque, até os primeiros 30 dias, essa curva ainda deve se definir. Temos uma semana, mais ou menos, para avaliar o comportamento da curva — analisou, enaltecendo as medidas de contenção do vírus adotadas até agora:
— Com os números que estamos vendo, se a gente não tivesse feito o isolamento precoce, sem dúvida teríamos uma situação muito pior agora, com muito mais casos graves.
O entendimento da Secretaria Estadual da Saúde é de que, caso não seja respeitado o isolamento social, o aumento de infectados deve parar de subir diariamente apenas no momento em que parte considerável da população já tiver sido infectada e se curado da doença, tendo criado anticorpos e estando imune a um novo contágio.