O avanço do coronavírus pelo território gaúcho está atingindo também os profissionais que estão na linha de frente do combate a doença. São 1.537 trabalhadores da área da saúde afastados por consequências da pandemia nas 18 maiores cidades do Rio Grande do Sul. Os servidores são ligados a prefeituras e duas das principais instituições de saúde pública da Capital: Complexo Hospital Conceição (GHC) e Hospital de Clínicas. Deste total, 40 já testaram positivo para covid-19 e 669 apresentam sintomas de gripe ou pneumonia.
O levantamento foi feito por GaúchaZH na quarta (1º) e quinta-feira (2) e o resultado está no quadro abaixo. Foi enviado um questionário com oito perguntas idênticas para as 18 prefeituras e os dois hospitais solicitando o número de profissionais afastados por envolvimento com as consequências ligadas ao coronavírus, como grupos de risco, sintomas de gripe, suspeita e confirmação da doença. Todos responderam, mas nem todos apresentaram o mesmo grau de detalhamento, alegando restrições de tempo devido ao grande fluxo de trabalho exigido pela pandemia.
Na Capital, são 419 profissionais em quarentena somando a rede municipal, GHC e Hospital de Clínicas. Apenas no Clínicas, são 27 funcionários com coronavírus e 49 aguardando o resultado do exame. O teste é feito na instituição e o resultado sai em 24 horas, o que oferece agilidade ao diagnóstico. No GHC, são 279 afastados. Na Região Metropolitana, Canoas precisou afastar 120 funcionários com sintomas de gripe. Em Bagé, cidade onde a transmissão começou pela comunidade médica, são nove profissionais com covid-19 e 50 afastados com suspeita da doença.
Em Passo Fundo, no norte do RS, os 101 profissionais afastados representam 17% do total de trabalhadores: 98 estão no grupo de risco e três estão com sintomas de gripe. É o maior impacto entre as cidades consultadas.
— Ficamos de mãos amarradas. Não temos como questionar um atestado. Trabalhamos no escuro, além de não ter dados reais do número de pacientes positivos, estamos perdendo profissionais. Se tivéssemos mais testes e o processo de testagem fosse mais rápido, poderíamos identificar realmente os que são positivos e os negativos, após melhorarem dos sintomas, poderiam retornar ao trabalho — afirma a secretária de Saúde de Passo Fundo, Carla Beatrice Gonçalves.
Com 104 profissionais da área da saúde afastados, Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, abriu dois cadastro de voluntários, um para profissionais da área da saúde e outro para demais áreas, que poderão ser chamados para atividades que não dependam de conhecimento técnico. Até a tarde de quinta-feira (2) eram 401 inscritos.
Graduada desde fevereiro e mestranda em Promoção de Saúde pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a enfermeira Bruna Rezende Martins é voluntária há duas semanas do ambulatório de campanha montado pela prefeitura no Ginásio Poliesportivo, onde ocorre a Oktoberfest e o Enart. Com experiência de voluntariado desde a adolescência, Bruna, que atualmente está sem emprego, não via sentido em ficar em casa no momento em que o mundo tenta se defender de uma pandemia:
— Não tem porque não usar meu conhecimento para ajudar as pessoas. Não faço parte do grupo de risco e tenho a oportunidade de fazer a diferença. É o momento de pensar no coletivo e ajudar a comunidade onde moro.
Pela primeira vez cumprindo seu papel de enfermeira, Bruna cumpre escalas de seis horas duas vezes por semana, mas pode ser chamada a colaborar mais caso a situação se agrave — por enquanto, Santa Cruz não tem nenhum caso confirmado da doença. No ambulatório de campanha, a enfermeira ajuda no acolhimento, faz triagem, organiza materiais e auxilia na produção de planilhas com o perfil dos pacientes.