Máscaras de mergulho, utilizadas principalmente para a prática de snorkeling, serão adaptadas para encaixe em respiradores artificiais e usadas no tratamento de pacientes com a covid-19. Os equipamentos vão receber uma válvula produzida em impressoras 3D para ligar a máscara aos aparelhos de oxigênio.
A ideia, que surgiu na Itália, é desenvolvida no Brasil por iniciativa de um grupo de engenheiros da empresa Owntec em parceria com a Universidade de Santa Cruz (Unisc), no Rio Grande do Sul, com o o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, em São Paulo, e com o Hospital de Santa Cruz do Sul. O protótipo brasileiro terá algumas diferenças em relação ao modelo italiano.
— No nosso conceito, a entrada de oxigênio e medição de pressão serão próximos à região da boca e, por cima, terá uma saída com filtro para não contaminar o ambiente — explica Luiz Barbieri, 33, CEO da empresa Owntec. — No modelo italiano, todas as entradas e saídas são por cima — acrescenta.
Epicentro do coronavírus na Europa, a região da Lombardia, na Itália, vem sofrendo com a falta de equipamentos e insumos médicos. Foi diante da escassez que o médico Renato Favero teve a ideia de buscar uma peça que pudesse fazer a adaptação das máscaras de mergulho para uso em respiradores.
No Brasil, a preocupação com essa possível carência no sistema de saúde foi a motivação que uniu empresas e universidades.
— A ideia surgiu quando um grupo de pessoas verificou no hospital da cidade quais seriam as necessidades que poderiam ser resolvidas em um curto espaço de tempo — explica Andréa Lúcia Gonçalves da Silva, fisioterapeuta do Hospital Santa Cruz do Sul.
Docente e pesquisadora do curso de Fisioterapia da Unisc, Andreia acrescenta que os profissionais envolvidos no projeto "estão em contato com os órgãos competentes na área da saúde para obter a aprovação para utilização em pacientes."
De acordo com Carlos Fernando Drumond Dornelles, médico emergencista do Hospital Santa Cruz, foram realizados testes em pacientes com problemas respiratórios, e o resultados foram satisfatórios.
— Nós não temos ainda, na cidade (Santa Cruz do Sul), nenhum paciente com covid-19 confirmada. Então, nós utilizamos o equipamento em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica exacerbada ou insuficiência cardíaca descompensada, com quadro de congestão pulmonar — diz Dornelles. — Em todas as situações, o paciente tolerou muito bem a máscara e melhorou o quadro clínico respiratório — afirma.
Ao todo, as instituições médicas da cidade gaúcha vão receber 50 máscaras adaptadas que foram doadas pela Decathlon. Inicialmente, a Owntec havia comprado 110 peças, mas a varejista de artigos esportivos cancelou todas as vendas após decidir doar os equipamentos, a exemplo de sua filial italiana, que cedeu 10 mil máscaras.
Segundo o CEO no Brasil da multinacional francesa, todo o estoque no país, com 2,8 mil máscaras, será enviado a instituições que farão as adaptações antes de servir aos hospitais.
— Nós também recebemos o contato de clientes que adquiriram as máscaras recentemente e querem doá-las. Em breve, vamos divulgar em nosso site como eles poderão fazer isso — afirma Cedric Burel.
As demais cidades que receberão os equipamentos serão definidas por ONGs como os Expedicionários da Saúde, de Campinas, que também vai trabalhar na adaptação das máscaras seguindo o protótipo desenvolvido pelos engenheiros gaúchos.
— Ainda estamos confirmando, mas todas as instituições que vão receber as máscaras são do SUS (Sistema Único de Saúde) e serão enviadas para hospitais do Brasil todo, não só de São Paulo — explica Victor Luiz de Paula Souza, voluntário da ONG e responsável por coordenar o processo de confecção, montagem e distribuição das peças.
Souza explica, ainda, que a ONG tem destinado todos os seus recursos a ajudar na atuação ao combate da pandemia do coronavírus e faz um apelo para pessoas interessadas em fazer qualquer tipo de doação, como de equipamentos e insumos, acessarem o site da instituição.