A primeira pessoa a morrer por covid -19 fora de Rio de Janeiro e São Paulo, uma mulher de Porto Alegre, fazia parte de um dos grupos mais rarefeitos do Brasil: o das pessoas acima de 90 anos.
Conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há perto de uma pessoa nessa faixa para cada 250 brasileiros (ou seja, 0,39%). Embora sejam uma diminuta minoria, os nonagenários representam mais de 10% dos mortos em decorrência do novo coronavírus no território nacional.
A morte da mulher de 91 anos da Capital ocorreu na noite de terça-feira (24), uma semana depois da confirmação do primeiro óbito do Brasil, e foi a 47ª do país. Apesar de a amostra ainda ser pequena, uma análise dessas primeiras vítimas fatais já desenha e confirma aquilo que epidemiologistas vêm dizendo há meses: o novo vírus poupa os jovens, mas é especialmente cruel com as faixas mais estreitas da pirâmide etária.
GaúchaZH fez um levantamento junto aos órgãos locais de saúde (o governo federal não repassa informações sobre a idade das vítimas) e constatou que 91,5% dos mortos no Brasil têm mais de 60 anos. Na população geral, esse grupo etário corresponde a apenas 14,26% dos brasileiros. Até agora, não morreu nenhuma pessoa com menos de 30 anos, grupo que representa quase metade da população nacional.
O Brasil está seguindo caminho semelhante ao da Itália, país campeão de mortes até o momento. Um levantamento da plataforma alemã Statista, feito quando as vítimas italiana eram 5,5 mil (já passam de 7 mil), revelam um perfil etário similar: 9% dos óbitos acima dos 90 anos (grupo que corresponde a 1,3% da população) e 95,5% acima dos 60 anos (29,3% da população). Apesar de já ter passado dos 70 mil casos confirmados de infecção pelo coronavírus, a Itália, conforme os dados disponíveis, ainda não registrou vítimas fatais com idade inferior a 30 anos.
O Centro de Controle de Prevenção e Doenças da China realizou um estudo que mostra como se dá o aumento do risco de morte por coronavírus de acordo com a elevação da idade. Com dados referentes ao período até 11 de fevereiro, o levantamento aponta que apenas 0,2% das pessoas infectadas de 10 a 39 anos morrem. Entre os quarentões, esse índice dobra. De 50 a 59 anos, passa para 1,3%. Sobe para 3,6% dos 60 aos 69 anos e para 8% dos 70 aos 79. A partir dos 80 anos, o risco de morrer alcança 14,8%.
Entre as razões da diferença estão a redução da imunidade na velhice e a maior frequência na terceira idade de cardiopatias, hipertensão, diabetes e outras doenças, que deixam o organismo mais vulnerável diante do vírus. Ainda que as chances de alguém mais jovem morrer sejam pequenas, elas existem (a Organização Mundial da Saúde informou que já há crianças entre as vítimas), e todo o cuidado é necessário.
Não é apenas por isso, no entanto, que as crianças e jovens devem seguir as regras de higiene e resguardo estabelecidas pelas autoridades. Os mais novos infectados, mesmo sem sintomas, são grandes transmissores, podendo servir de cúmplice do coronavírus para chegar aos avós.