Em reunião virtual promovida nesta sexta-feira (13), o Ministério da Saúde recomendou o cancelamento ou adiamento de eventos com grande participação de pessoas em razão da pandemia do coronavírus. Com isso, as autoridades locais devem estimular que eventos – sejam eles governamentais, artísticos, científicos ou comerciais – não ocorram nesse período. Caso não seja possível cancelar o evento, a recomendação é de que não haja público.
A orientação federal foi apresentada a gestores estaduais e municipais ao lado de um conjunto de medidas (veja abaixo). O ministério indica que os organizadores de eventos que não possam ser cancelados entrem em contato com autoridades de saúde para cumprir os requisitos previstos na legislação para essas situações.
— Não há regra única, cada local deve avaliar com as autoridades locais. Não temos o Brasil inteiro na mesma situação. O que não impede que tenhamos que adotar alguma medida geral em algum momento — destacou o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira.
Mesmo antes da recomendação oficial, muitas entidades já vinham cancelando ou postergando eventos. A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) anunciou que a rodada do Gauchão deste final de semana será realizada sem presença de público nos estádios. E a Conmebol anunciou que todos os jogos da Libertadores marcados para a próxima semana estão suspensos.
O Sistema Fecomércio-RS/Sesc comunicou que serão cancelados ou adiados os eventos coletivos que gerem aglomeração pelos próximos 30 dias, incluindo atividades esportivas, de recreação e ações que possam ser consideradas de risco para os idosos. Também a TranspoSul, considerada a maior feira de transporte e logística do Sul do país, adiou a realização do evento de junho para setembro.
O Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) suspendeu temporariamente os eventos previstos pela entidade em março, porém não recomendou o fechamento de escolas e universidades particulares em geral. Alguns estabelecimentos de educação que registraram casos da covid-19 entre seus estudantes tiveram as atividades suspensas.
Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, aponta que é fundamental que, com o aumento de casos, as pessoas, especialmente aquelas mais vulneráveis, evitem aglomerações e grandes eventos que ainda sejam realizados.
— É importante que as autoridades e grandes empresas adiem eventos que possam ser postergados e diminuam a incidência de aglomerações. Precisamos lidar com isso para evitar uma propagação ainda maior do vírus — diz Spilki.
O que fazer em caso de aniversários, casamentos, festas, cinema?
Eventos de público mais restrito, como casamentos e festas de aniversário, devem também ser cancelados?
A orientação de especialistas é de que não há necessidade de cancelar eventos comemorativos ainda, pelos menos quando forem restritos – com poucas pessoas, todas saudáveis – e em cidades onde não há registro de transmissão local ou comunitária do coronavírus. Já nos cinemas, a Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas explica que grandes exibidores estão monitorando a situação e, por enquanto, aumentaram a frequência de higienização na salas, disponibilizaram álcool gel para os clientes e estão monitorando funcionários, mas não pretendem modificar a programação.
— É preciso que todos, apresentando sintomas ou não, mantenham a higiene pessoal, como lavar as mãos com frequência e manter os locais sempre limpos — explica Fernando Spilki.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins:
O Ministério da Saúde indica que eventos em locais fechados para menos de cem pessoas sejam cancelados ou adiados ou, na impossibilidade disso, que ocorram por meio de algum ambiente virtual apenas em locais com transmissão local do vírus (quando uma pessoa é infectada não por ter viajado para fora, mas por contato com alguém com o vírus no próprio país). Nessas cidades, o governo recomenda que idosos e pacientes crônicos devem evitar viagens, cinema, shoppings, shows e outros locais com aglomeração. Em Porto Alegre, a prefeitura recomendou nesta sexta-feira (13) que eventos para mais de cem pessoas sejam cancelados.
Até esta sexta-feira, nenhum município do Rio Grande do Sul tinha o tipo de transmissão local: todos os seis casos confirmados foram de pacientes que viajaram a países com foco de coronavírus, ou seja, são casos importados.
Já naqueles locais com transmissão comunitária, quando as equipes de vigilância não conseguem mais mapear a cadeia de infecção, não sabendo quem foi o primeiro paciente responsável pela contaminação dos demais – até esta sexta, apenas São Paulo e Rio de Janeiro estavam classificados nessa situação –, as recomendações passam a incluir o cancelamento de viagens não essenciais, o trabalho em casa, a antecipação de férias e a adoção de horários alternativos para que trabalhadores não se encontrem todos ao mesmo tempo no horário de pico.
Outras medidas
O Ministério da Saúde apresentou diversas outras medidas aos gestores estaduais e locais, que vão de mudanças nos fluxos urbanos às rotinas de trabalho, passando pelo calendário escolar e pela forma de lidar com casos suspeitos e confirmados da doença. Confira a seguir.
Em casa
- Se uma pessoa ficar doente, deve permanecer em casa. A orientação mais detalhada pode ser dada pela equipe da unidade básica de saúde ou médico de referência.
- Equipes de vigilância devem organizar o monitoramento dos contatos próximos e domiciliares.
Em unidades de saúde
- As unidades de saúde devem agilizar os mecanismos de triagem para que pessoas com sintomas respiratórios permaneçam menos tempo em salas de espera. O objetivo é que os pacientes com sintomas não exponham outras pessoas.
- As unidades devem promover também o uso adequado e racional de equipamentos de proteção individual. A máscara, por exemplo, é indicada aos doentes, contatos domiciliares e profissionais de saúde.
- Os gestores de saúde devem garantir a notificação ampliada das definições de caso de forma atualizada.
- As autoridades de saúde devem planejar formas de ampliação das equipes e como utilizar a força de trabalho de estagiários, estudantes e aposentados. No momento de maior pico da doença, o Ministério da Saúde acredita que pode ser necessária a convocação dessas pessoas.
- Os médicos devem receber a orientação de fazer prescrições de remédios com validade mais prolongada aos pacientes que fazem uso de medicamento contínuo, para evitar que a pessoa tenha de se deslocar à unidade de saúde no período do outono e inverno somente para atualizar receita.
Em viagens
- Pessoas que estiverem voltando de locais com grande transmissão devem fazer autoisolamento por sete dias, evitando grandes movimentações em locais com aglomeração de pessoas.
- Cruzeiros turísticos devem ser adiados durante todo o período em que durar a emergência de saúde pública.
Em outros locais
- Serviços públicos e privados (como shoppings e comércio) devem assegurar que as pessoas possam lavar as mãos, usar álcool gel e toalha de papel. De acordo com o ministério, o ventilador para secar as mãos é complemento, mas não resolve sozinho.
- Reforçar as orientações individuais de prevenção de forma mais ampliada, com escolas, indústrias, empresas e comércio colocando informação em sites e divulgando-as para seu público.
- A comunicação acerca do coronavírus e das formas de prevenção deve ser iniciativa de todos, e não apenas do ministério ou das secretarias estaduais e municipais. Escolas e locais de trabalho podem atuar disseminando essas informações.
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