Uma das primeiras cidades a decretar medidas de distanciamento social, Florianópolis fará testes em larga escala para barrar a proliferação da covid-19. As prefeituras da capital catarinense e de outras três cidades próximas, Biguaçu, Palhoça e São José, comprarão os testes com recursos próprios.
Os testes em massa são uma das ações adotadas pela Coreia do Sul, país que conseguiu achatar a curva do coronavírus sem impor restrições severas às atividades comerciais e à circulação de pessoas.
O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), diz que a ação é baseada não apenas nos resultados da Coreia do Sul, mas também na literatura científica sobre o tema. As compras de cerca de 200 mil testes devem ser finalizadas, possivelmente, na próxima segunda-feira (30), com entrega até o dia 6 de abril. O valor deve superar R$ 15 milhões.
— Não vai ser um teste em toda população. Padronizamos critérios para estabelecer os casos suspeitos. Todos os suspeitos serão testados e, quando confirmados, serão isolados e vamos refazer o roteiro dele na última semana e todos que tiveram contato serão testados também— explicou Loureiro.
— Estimamos que, se testarmos 20% da população (de 1 milhão de habitantes das quatro cidades), 5% serão isolados. Conseguimos operacionalizar isso e liberar o restante para suas atividades, com todos os cuidados necessários — calcula o prefeito.
Loureiro explica que testar todos suspeitos é uma forma de preparar a cidade com mais segurança para as futuras flexibilizações do decreto do governador Carlos Moisés (PSL), que fechou comércio e transporte, entre outras medidas. Moisés tem dito em seus pronunciamentos que planeja retomar a atividade econômica de forma gradual, o que fará com que muitos voltem a circular pelas cidades.
A postura de retomada, porém, não significa um alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro, que vem criticando os governadores e as medidas de isolamento. Moisés se disse "estarrecido" com o pronunciamento de Bolsonaro.
— O que foi distribuído pelo governo federal não é suficiente, a gente quer fazer em grande quantidade — diz o prefeito.
Além dos testes, a prefeitura estuda adotar uma solução digital desenvolvida por uma startup na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que possibilitaria o monitoramento do isolamento por GPS do paciente.
— Com o volume de pacientes testados que teremos, não temos estrutura para fazer o monitoramento tradicional por telefone, ligando de manhã, de tarde e de noite. Por isso, a tecnologia é importante — explica.
Com autorização do paciente, o aplicativo indicaria os contatos mais frequentes feitos na semana do possível contágio, para que esses contatos também sejam testados.
A Coreia do Sul já testou mais de 270 mil pessoas e tem 9.137 casos confirmados e 126 mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Aqueles com resultado positivo ficam em isolamento. O país tem conseguido detectar a maioria dos infectados e, assim, essas pessoas permanecem isoladas, sem disseminar o vírus.
A prefeitura de Florianópolis também tomou medidas sociais para ajudar a minimizar o impacto do isolamento. Todas as famílias que têm filhos matriculados nas escolas públicas do município receberão um "cartão merenda" para compensar a falta das refeições das crianças nas escolas, que estão fechadas.
Além disso, há um "cartão refeição" de R$ 100 mensais para 2 mil famílias vulneráveis. Com esse valor, poderão ser comprados produtos de higiene.
Para microempreendedores, a prefeitura lançou uma linha de crédito de juro zero. Por exemplo, caso um empréstimo de R$ 3 mil seja tomado, ele deve ser pago em dez parcelas de R$ 300. A prefeitura arcará com os juros, explica Loureiro.