Máscaras de proteção estão se tornando artigo raro em farmácias da região central de Porto Alegre nesta semana, desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil. Na manhã desta quinta-feira (27), a reportagem de GaúchaZH voltou a percorrer estabelecimentos nos bairros Menino Deus e Centro Histórico — duas das áreas com maior concentração de farmácias na Capital. Nos poucos locais que ainda contam com o produto, não foi identificada alteração significativa nos preços, que variam entre R$ 1,50 e R$ 2,50, no modelo mais simples, conhecido como cirúrgico. A maioria dos locais contatados aponta dificuldade em conseguir comprar novos carregamentos do material.
No Menino Deus, das cinco lojas pesquisadas, apenas duas ainda tinham o item nas prateleiras, em pouca quantidade.
Na manhã de quarta-feira (26), a Farmácia Santa Rita, da Rede Associadas, no cruzamento da Avenida Getúlio Vargas com a Rua General Caldwell, oferecia cerca de cem unidades da máscara cirúrgica e 15 do modelo N95, conhecido como “bico de pato”. Todo o estoque foi vendido na tarde do mesmo dia, segundo a balconista Tatiane Aguirres, 36 anos. A funcionária destaca que a procura pelo produto segue intensa no local.
— Estamos anotando o número das pessoas que estão procurando as máscaras para dar um retorno sobre quando chegar mais — destaca Tatiane, mostrando os papéis com os nomes e o contato dos clientes.
Durante a manhã, a balconista dividia o atendimento aos clientes com o contato com fornecedores na busca por máscaras. Segundo ela, está difícil adquirir o material e o preço subiu cerca de quatro vezes nas distribuidoras utilizadas pela empresa. A expectativa é de que o estoque seja reposto nos próximos dias.
A corrida por álcool em gel também impactou no estoque da loja. Entre quarta-feira e o fim da manhã desta quinta-feira, 15 dos 21 frascos de tamanho grande disponíveis na loja foram vendidos.
— Antes, saía no máximo um pote por dia. Às vezes, nem isso — afirma Tatiane.
Até as 13h desta quinta, seis peças de 430 gramas, cada uma vendida a R$ 13,97, estavam disponíveis no local. A farmácia aguarda novo carregamento, mas, para obtê-lo, precisou trocar de fornecedor. A mudança deve impactar no preço do artigo.
Funcionários da Farmácia Central, da Rede Associadas, no bairro Menino Deus, também confirmaram que houve uma saída mais volumosa de máscaras de proteção desde quarta-feira. Na data, a venda do produto foi 80% maior, se comparado a dias “normais”, segundo a coordenadora de Recursos Humanos da loja, Elisângela dos Santos. Na manhã desta quinta-feira, apenas nove unidades do modelo cirúrgico, comercializadas a R$ 2,50, eram encontradas no local — 55 a menos do que no dia anterior. Em relação ao álcool em gel, o estabelecimento oferecia apenas 20 embalagens de 430 gramas.
A Drofarma localizada no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas e Ganzo, também tenta driblar a escassez de máscaras cirúrgicas. Somente na tarde de quarta-feira, o local vendeu 200 itens. Na manhã desta quinta-feira, o estabelecimento ainda contava com 50 máscaras, cada uma vendida a R$ 1,50, obtidas em um estoque emergencial. A atendente Marialva Dartora, 52 anos, disse que empresa está providenciando a reposição do estoque, já que esse saldo deve se esgotar ainda nesta quinta.
No Centro, produto não é encontrado
Na Rua dos Andradas, no Centro Histórico, era praticamente impossível encontrar qualquer tipo de máscara de proteção. Todas as quatro farmácias que receberam a reportagem de GaúchaZH informaram não ter mais o produto em estoque.
Gerente de uma loja da rede de farmácias Maxxi Econômica, na Rua dos Andradas, Janaina Garcia do Nascimento, 42 anos, diz que todas as 50 unidades de máscara cirúrgica que estavam na prateleira da loja foram vendidas até o fim da manhã de quarta-feira.
— O pessoal está procurando bastante e já estamos trabalhando para conseguir mais unidades — explica Janaina.
Na mesma via, próximo ao cruzamento com a Rua Caldas Júnior, a Farmácia Prime, da rede Associadas, seguia sem máscaras na manhã desta quinta-feira. Segundo a subgerente da loja, Jéssica Ferreira, praticamente metade dos clientes que cruzam as portas do local está em busca do produto:
— Eles querem montar o kit com máscara e álcool em gel. Já chegam perguntando por esses itens — pontua.
Viajantes correm atrás do produto
Segundo os trabalhadores das farmácias consultadas pela reportagem, o público que tem viagem marcada para deixar o país nos próximos dias segue liderando a busca por máscaras. É o caso da servidora pública Michelle D'Agostini, 36 anos, que vai passar 20 dias em Paris, na França, com a família. Por volta das 10h desta quinta-feira, no Menino Deus, a servidora pública já havia recebido, ao perguntar sobre a disponibilidade do produto, cinco nãos.
— Eu tinha pensado em comprar cem máscaras para pelo menos ter uma por dia. Como meu amigo, que está na França, diz que lá não tem, vou ver se consigo levar umas duas caixas para eles — destaca.
Michelle diz que estava em busca da máscara conhecida como “bico de pato”, mas já aceita comprar o material mais simples, em razão da baixa oferta existente até o momento.
Na Farmácia Santa Rita, a aposentada Jussara de Paula, 60 anos, é uma das pessoas que deixou o nome e o telefone para ser avisada sobre a reposição do estoque de máscaras.
— Meu filho começa uma viagem em direção à Islândia e à Noruega na segunda-feira (2). Então, resolvi comprar as máscaras. Não imaginei que teria essa corrida. Quinze dias atrás, tinha o produto nas farmácias — lamenta a aposentada.
Com um frasco de álcool em gel em uma sacola, garantido em uma compra no supermercado, Jussara saiu do estabelecimento determinada a seguir sua busca, temendo não encontrar as máscaras antes da viagem do filho.
OMS diz que o uso de máscaras por quem está sadio é desnecessário
Mesmo com a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) assegura que não há necessidade de se fazer uso indiscriminado de máscaras médicas. Porém, o órgão adverte que a população deve fazer a higiene correta das mãos para evitar contaminações em geral – como gripes comuns, por exemplo.
Segundo o órgão das Nações Unidas, pessoas que não apresentam sintomas da doença ou que não tiveram contato com infectados só devem usar máscara se forem atender alguém com suspeita de contaminação pelo coronavírus. Quem esteve com pacientes suspeitos e apresentar sintomas como tosses e espirros deve utilizar as máscaras para evitar a propagação. Em situações como essa, é necessário procurar um serviço de saúde.
A OMS adverte que o uso das máscaras somente é eficaz se combinado com medidas de higiene, como a lavagem frequente das mãos com água e sabão, durante 20 segundos, ou a desinfecção com álcool em gel. Também é necessário aprender como colocar e descartar os equipamentos.
Máscaras médicas
Como usar:
- Antes de colocar a máscara, é fundamental que se higienize corretamente as mãos com água e sabão ou álcool gel;
- Cubra a boca e o nariz, certificando-se de que não há espaços entre o rosto e a máscara;
- Evite tocar a máscara enquanto a usa. Se isso acontecer, lave as mãos com água e sabão ou utilize álcool em gel;
- Quando a máscara estiver úmida, troque-a;
- Nunca reutilize a máscara.
Como retirar:
- Tire a máscara por trás (não toque na parte da frente);
- Descarte a máscara em um recipiente fechado;
- Após a retirada, lave as mãos com água e sabão ou faça a higienização com álcool em gel.