Registrada desde dezembro do ano passado em Minas Gerais, uma série de casos de "síndrome nefroneural" ainda está sob investigação pela Secretaria Estadual da Saúde mineira. De acordo com a pasta, foram nove casos suspeitos. Desses, um resultou em óbito e outro foi descartado.
Todos os pacientes são homens, com idades entre 23 e 76 anos, e apresentaram insuficiência renal aguda com evolução rápida e alterações neurológicas centrais e periféricas. Uma força-tarefa foi designada para apurar os acontecimentos.
Em paralelo às investigações dos órgãos de saúde, a Polícia Civil também examina cervejas da marca Belorinzontina encontradas na casa de dois pacientes internados. Um laudo preliminar emitido pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil apontou a presença de uma substância chamada dietilenoglicol (DEG), usada para diversos fins industriais, como em cosméticos e fluidos automotores.
— Ainda não se sabe se foi essa substância que causou os sintomas. Não há nada conclusivo no momento. Ela é uma substância que não deveria estar na cerveja, a princípio — pondera Eduardo Cesar Tondo, professor do Instituto de Ciências e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Também professor titular do Departamento de Ciência de Alimentos da UFRGS, Jeverson Frazzon acredita que, para se chegar ao nível de intoxicação, seria necessária uma concentração muito alta da substância misturada à cerveja, fato difícil de acontecer se considerarmos que esses produtos são produzidos em barris com milhares de litros de bebida.
— Se eventualmente uma garrafa estivesse contaminada por adulteração, aí precisaria muito menos quantidade da substância — diz.
— Não faz muito sentido colocar DEG como ingrediente da cerveja. A indústria usa muito em resinas, plástico, óleos, no cigarro, como umectante, cremes e loções. Mas veja, todos são de uso externo — completa.
Se ingerida, a substância tem como reações exatamente os sintomas apresentados pelos pacientes internados: insuficiência renal e problemas neurológicos.
— No fígado, ela pode formar outras substâncias e aí começa o problema. O tratamento é feito com hemodiálise, para retirá-las do organismo — finaliza Frazzon.