O alerta global para a disseminação do novo coronavírus a partir da China tornou-se uma grande preocupação para quem tem viagens marcadas para o Exterior. Neste momento, o Ministério da Saúde desaconselha a ida ao país asiático. Passageiros que se preparam para embarcar para destinos no Hemisfério Norte, onde é inverno, devem prestar atenção a alguns conselhos de especialistas.
A infectologista Gynara Rezende, do Serviço de Controle de Infecção da Santa Casa e do Hospital Porto Alegre, recomenda, em primeiro lugar, que pessoas com sintomas como febre ou tosse procurem um médico — não é preciso que seja um infectologista — antes de partir, para que ele possa fazer uma avaliação do estado geral de saúde. Se o paciente for diagnosticado com alguma enfermidade, o ideal é que procure reagendar o compromisso, no caso de atividade relacionada a trabalho. Ele não se sentirá bem e, provavelmente, não poderá mostrar o seu melhor desempenho.
O seguro de viagem é obrigatório para a entrada em muitos países, e Gynara recomenda que o serviço seja contratado em qualquer situação. No caso de doença, com o surgimento de sintomas respiratórios em um local onde esteja ocorrendo a notificação de casos do novo coronavírus, o viajante não deve ficar trancado em casa ou no hotel, mas, sim, procurar atendimento. É importante ficar atento ao noticiário local para saber o que estará sendo comentado sobre o assunto e se inteirar das últimas informações sobre a disseminação do vírus pelo planeta, uma vez que há muitas atualizações, diariamente.
Pelo que sabe até aqui, explica a especialista, a transmissão do novo coronavírus se dá por gotículas de saliva. Ao falar, expelimos essas gotículas, que podem atingir os outros ou as superfícies ao nosso redor. Por conta disso, Gynara recomenda que os passageiros evitem usar cobertores fornecidos pelas companhias aéreas e prefiram levar os seus para enfrentar a queda de temperatura durante os trajetos mais longos. A mesma orientação vale para outros acessórios, como as máscaras de dormir para os olhos.
Máscara cirúrgica
Quanto à proteção da face, a infectologista diz que, em voos com saída do Brasil, não é preciso embarcar com máscara cirúrgica.
— E não vejo por que usar máscara nas conexões (fora do país). A maior parte dos casos está na China — comenta Gynara.
— Na China, sugiro que a pessoa já chegue ao aeroporto de máscara e a use na rua, trocando-a a cada duas horas — fala a médica, acrescentando que basta adquirir a máscara cirúrgica comum, em farmácias, e que a do tipo N95 é recomendada para profissionais de saúde em determinadas situações.
Além de conter a dispersão das gotículas de saliva, a máscara protege a pessoa de encostar no rosto e acabar se contaminando — daí a recomendação mais importante para a prevenção de contaminação por vírus desse tipo, que é a de lavar repetidas vezes as mãos durante o dia.
Alexandre Schwarzbold, infectologista, presidente da Sociedade Rio-grandense de Infectologia e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), informa que a lavagem de mãos eficiente é aquela feita com água e sabão que dura em torno de 20 segundos. Devem ser esfregadas as palmas, os dorsos, os punhos e os espaços entre os dedos. Quem está em trânsito e não dispõe de banheiro ou lavatório acessível o tempo inteiro pode carregar na bolsa ou na mochila um frasco de álcool gel 70% (sem fragrância). É importante higienizar as mãos também durante o voo. Na saída do banheiro, ensina Gynara, o passageiro pode aproveitar a mesma toalha de papel que utilizou ao se secar para segurar a maçaneta e abrir a porta.
Outro ponto importante é o que Schwarzbold chama de "etiqueta respiratória": na hora de espirrar ou tossir, cubra a boca e o nariz com o braço, no ponto da dobra do cotovelo, ou com lenço de papel descartável. Não recorra aos lenços de pano, tão populares antigamente.
Apesar do alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS), não há, até agora, motivo para preocupação para quem está no Brasil, garante Gynara:
— Aqui, vida normal por enquanto.